Velho coreto
O velho coreto me viu sentar
sobre um mais velho banco feito de restos de mar
Sentei para colher o sorriso da tarde,
o cochilo do adormecer,
a caricia do vento norte sobre minha pele.
Sentei para pescar felicidades
O nada me enfeitiçou, o tudo posou no meu olhar
Escutei a agua cantar,
ouvir a saracura voar o seu voo de adeus.
Sentei para imaginar que sonhos o mar sonha
no convés daquele navio
Sentei para sentir saudades...


O meu carinho e gratidão à você que passeia por este blog, que ler os meus poemas... Cada poema é escrito com amor, para você... Que o seu domingo seja pleno de luz e bem querer!
Namastê...

Decifrando o olhar
O que será que olha os olhos meus?
Distraídos estão na varanda 
de um aconchego qualquer...
Tudo em volta está vivo:
a madeira torcida, a casa caída em ruínas,
as cinzas do velho fogão, o terreiro varrido,
a terra abatida, cortada ao meio 
como caroço de saudade.
O que olha os olhos meus?
O mistério do rio, o córrego quase vazio,
o distante horizonte deitada à sombra dos açaizais.
Olho a quietude do tempo,
a ternura vivida no momento
e o encanto do canto que canta o cantar 
do que ainda virá...

                                               Entre os arrozais
Eu escolhi te amar, te esperar,
te adornar com a beleza das estrelas,
cantar o teu canto de paz.
Escolhi o teu nome como se escolhe 
a poesia do encontro
e o escrevi no meu livro de poemas,
entre versos, rimas e afetos.
Quis contigo criar a boniteza dos sonhos,
sentar à sombra do tempo, beber o sabor do silêncio
que um dia sopramos aos cuidados do vento.
Hoje, quero criar outros caminhos,
caminhos que nos levem ao tesouro escondido,
talvez, perdido entre os arrozais,
talvez, pendurado no ipê da esquina silenciosa...
Paralelos
Emoções singelas rasgadas
Desejos cortados ao meio como fatia 
de bolo de chocolate
Pés molhados de sabão falam de solidão,
de bem viver e de um imenso sertão tomado
de águas serenadas.
Desvairado querer além da intensidade de um tempo
e da imensidão de outro espaço desenhado
com traços, silhueta de pássaros
e flores nascidas nas pedras.
Cores mortas vivas pintadas no  vento norte,
correm prados, montanhas e vales
até pousar num horizonte encharcado de riachos,
galhos quebrados, paralelos e sonhos...

           Ode à vida
Ode ao silencio de tua voz
que canta aos meus ouvidos,
as cavalgadas estrepitas que anunciam 
a tua chegada,
ao cheiro gostoso de teus cabelos que perfumam
a boina que me deixaste como herança.
Ode ao sabor de tuas lembranças,
quando nas manhãs vespertinas descia a ladeira
arrastando um saco bordado cheinho de jornais,
de flores e de sangue.
Ode a vida bradada, ferida,
ungida de belezas e sonhos,
de ousadias, tesão e compaixão
para com quem tece o mundo com as próprias mãos,
mentes e corações.
Ode ao gostoso sabor do silencio...

Espinhos e carinhos
Te acalantas no meu peito,
 mimas minha alma, enfraqueces meu infinito,
fortaleces os jardins de carne
que preservo como  tatuagens naturais da pele.
Nesses caminhos de ousadias,
prantos e alegrias,
meus pés se machucam pelos espinhos do caminho
e sangram, sangue de flores,
de dores e de sonhos.
Aprumo os meus pés na estrada,
 cortada ao meio por um belo destino
tecido com linhas e rosas.
Logo de manhã
O aroma do meu café se entranhou no seu sorriso
O cheiro dos meus cabelos se deitou 
nos seus sentidos
O cheirinho da saudade invadiu o seu infinito
e pousou no mágico dos olhos seus.
O aroma da manhã, bebido de esperança
alimenta o que não se alcança com 
os toques das mãos,
mas é o coração que faz cochilar a razão,
se enfeita de paixão e vivencia todas 
as cores da vida.
O aroma do Ser não sabe esquecer,
 simplesmente ama, ama, ama...





Velho trapiche
A poesia nasce das coisas velhas,
quebradas, carcomidas pela memória da carne,
nasce da beleza silenciosa
Avistei esse velho trapiche
e logo me veio uma imensa saudade.
 Saudade da vida vivida,
dos desejos quase esquecidos no baú do tempo,
da aurora que ainda põe sobre a velha madeira
os seus raios de luz.
Doce visão poética que me aponta o horizonte,
que enche meus olhos de arco íris,
que remexe as lembranças
que cochilam no fundo da alma.
 Meu velho trapiche quebrado...