Além dos cafezais
Agora sei que consigo partir
Já me despedi da rosa amarela, da branca margarida,
do amor perdido em meio aos cafezais.
Deixo contigo o velho cantil, a boina vermelha,
e algumas gotas
do meu querer derramado no chão.
O sonho eu o reparto ao meio
Mesmo assim ele ainda fica inteiro
porque sonhos sangram, sonhos movem,
sonhos se renovam,
viram prisão ou jardim
e entre prisões e jardins
nascem brotos de liberdade.
A cidade está linda! A primavera chegou! As flores estão se abrindo! Desabrocham os ipês amarelandoo chão...
Antes que os ipês fique verdes... O que pode acontecer? Uma pétala será levada pelo vento, revoada de pássaros surgirá neste imenso espaço azul, lágrimas hão de dizer que há dor, mas os sorrisos vão secá-las com amor, e eu te darei minhas mãos, um abraço apertado, parte-todo do meu coração... Um lindo dia é o que te desejo!

Bordados e viés
Dizes que de linhas e retalhos faço poesia
Que costuro as amizades com os fios de ternura,
pontuando os laços e abraços que trago nos braços
e em minhas mãos de artesã.
Portanto se tu te rendes no viés das rendas
que bordam nossas vidas
e agradeces pelo ponto que te toca,
fico aqui sentada na cadeira de balanço
que tece minhas mãos
numa eterna gratidão de quem vive de espera.
Doce espera que vê as linhas fugirem pela janela
sem perceber que os carretéis
se embaralham nos vãos vazios do destino.
Ternura e agulhas costuram os arranhões deixados na alma
pelos espinhos que sugam o sangue da dor,
bordam de amor as brancas rendas
e as rubras rosas vermelhas
que se espalham pelo horizonte.

Ousadia das flores
Os girassóis mudam de vasos
As rosas vermelhas preferem a soleira da porta encantada
As trepadeiras se espalham pelas cercas
que por tanta beleza tombam em direção ao sol.
O meu jardim mudou de rua
Criou uma estrada pra lua e de lá semeou jasmins
Nas noites estreladas uma escada de flores
é lançada até tocar aquela outra estrada
que fizemos no verão passado,
quando as orquídeas orvalhadas e as hortências serenadas
juraram eterno amor.
Outro dia vi as plantas andando
procurando nos quintais um lugar para viver,
florescer, encher a terra de paz.



Infinitas coisas
Cadê você?
Que depois de tantos sonhos,
promessas inversas, namoro e canções,
some na vastidão sem vão
desse tempo que habita entre a terra e as estrelas.
Sem nenhum fetiche, sem nenhum beijo
e com todos os desejos de contigo escrever
um poema que fosse tão belo
como as asas de uma borboleta.
Cadê você?
Que sem nenhum porque rasgaste a poesia
que é pura sinfonia do amor  
e da alegria que há entre nós dois.
Nós dois: terra e estrelas a trans-andar
nessa órbita infinita de imensa luz!


Cuidando do jardim
Hoje escolho plantar um jardim
A terra energiza minhas mãos,
escurece minhas unhas,
escorrega pelos meus dedos
Mancha minhas mãos de ternura.
Pretinha e solta se aconchega nos vasos,
nos braços, nos cravos e no horizonte
Alimenta caules, raízes e botões de flores.
Tocar, cuidar, acarinhar,
adornar com pedras uma açucena menina
que sozinha olha para as esquinas
e derrama perfumes e esperanças.
Num vaso planto um lírio branco
Noutro um cravo amarelo
Bem pertinho da janela penduro uma verde samambaia
No chão planto um pé de amora
e bem ao lado semeio sementes de girassóis
que hão de enfeitar os meus sonhos.