Olá meu querido, minha querida!
Amanhã viajo e vou passar todo o mês de julho fora.Certamente não vou ter como atualizar este blog,
mas deixo aqui o meu carinho a você. Que Deus o-a abençoe. Que julho lhe traga Paz, alegrias, saúde e fé na vida.
Um grande beijo no seu coração! Até breve! 
Gente linda
Tem gente tão linda que,
no lugar dos cabelos nasce flores,
no opaco dos olhos predomina
a cor verde do silêncio e nos lábios,
sempre surge a cor acerejada do por do sol.
Tem gente linda que come poesia,
que respira a fragrância do amanhecer
e quando chora suas lagrimas
tem o sabor salgado do doce mar.
Gente linda, sempre traz no sorriso uma estrela,
na voz o sussurro das águas
e no coração uma capacidade imensa de amar.

       O caminhar dos caminhos
Os caminhos me surpreendem,
o caminhar me espanta,
canta o canto que o vida gerou,
encanta o meu olhar que outro dia
eu o esqueci aos pés de uma montanha.
Mas logo fui buscar
e gravei o meu cantar numa flor,
tatuei o meu sorriso nos cristais e jazidas
nos quais havia acabado de tropeçar.
Os caminhos me assustam,
o caminhar me acalma, faz festa no meu coração
é uma celebração, é um encontro
      com todos os meus sonhos.

Namorando a lua
E a montanha acena ao longe
cobrindo de versos, o teto do casebre
que acolhe os meus sonhos.
Vou abrir as janelas,
tirar o pó das cortinas, acender o fogão de lenha,
saborear o café que, agora,
esquenta a fé do povo.
E a montanha se estende pelo horizonte,
ao seu redor se ouve o inaudível,
se decifra os segredos do infinito,
do vento e das nuvens
que escorregam para as planícies.
Eu ergo palhoças para namorar a lua
Na estrada feita de carne fico a esperar 
pela sua chegada.

Ainda que seja inverno
Minha voz soltou o seu canto,
minhas palavras se penduraram
no teto vermelho do meu quarto
e a minha sombra no espelho refletiu
a imagem da saudade que,
a tempo move os meus passos.
O meu canto cantou o inverno chegando,
molhando o frio da solidão
Nas calçadas vazias de comunhão,
corpos tremem ao relento das noites encharcadas.
O meu canto para de cantar,
minha voz se faz lençóis e sai cobrindo o abandono
e o medo que dorme nos becos enrolados
nos cobertores de minha consciência.
Mas, a primavera há de chegar...
Eu tenho que plantar jardins ainda que seja inverno.

O carinho do tempo
O tempo suavemente pinta meus cabelos,
alarga limitando o meu olhar,
aguça a minha percepção do mundo,
embeleza a minha compreensão,
adormece as minhas mãos, atiça o meu silencio,
mesmo dentro do borbulho de vozes.
O tempo coloca uma flor silvestre nos meus olhos,
uma onda e um pedaço do mar nos meus sonhos
e ainda me presenteia
com dias feitos de borboletas em voos.
O tempo é carinhoso comigo,
cuidadoso com a minha lentidão,
me envolve de paixão e comigo caminha
tatuando nos muros os meus cabelos brancos.

Brisa morna
O vento disse pra tarde...
Espera aí vou colorir teu sorriso
com uma brisa morna, vou entardecer contigo,
bordar no horizonte longínquo um pássaro em voo.
A tarde disse para o arco íris...
Quero te oferecer um tesouro dourado,
um emaranhado de belezas,
uma tristeza infinita, tão bonita quanto
a pérola que rola na praia.
O arco íris se enrolou nas cores de todas as tardes,
fez um alarde, uma fogueira,
dela retirou todas as cores, faíscas,
fumaças, fantasias
e aquarelou o seu corpo nu.

Na escola das gaivotas - Minhas vivências no período de 94 até...

Instituto de educação do Estado do Amapá-IETA - era o nome da escola na qual tive a alegria de vivenciar práticas diferentes de educar com encanto. Era uma escola diferente das demais que conheci. O pensamento do Tiago Adão Lara “Queremos uma escola onde a ideia não amarre, mas liberte; a palavra não apodreça, mas aconteça; a imaginação não desmaie, mas exploda; o pensamento não repita, mas invente; um saber novo que é do povo; escola oficina da vida, que se faz saber do bem querer,” estava estampado numa faixa bem no meio do corredor da escola. Aquelas palavras me causaram arrepios na pele ao adentrar naquele espaço, já sagrado, para mim.
O IETA, antes da reforma era um prédio velho, carregava nos ombros o peso do tempo, mas no seu interior havia uma energia vitalizadora. Nas velhas paredes cheias de infiltrações havia mistério... Nos corredores se via uma meninada alegre, havia sorrisos tatuados em cada canto. Na quadra os educandos ensaiavam danças, peças teatrais, jogavam futebol, namoravam... Uma doce boniteza que encantava os meus olhos. E ainda por ali, às vezes, perto da lanchonete, um panelão de feijoada ou de sopa, fervilhava.
O IETA era um sussurro de vozes gritantes. Entre essas vozes estava o grêmio Paulo Freire... Ah, esse era um ninho de se criar “cobrinhas.” Quem não se lembra do Antonio do PSTU, da Camila Ilário, do Zander Guedes, do Genilson Salazar, Rubem Júnior, Marcelo Barbosa, Marcelo Almeida, Nicolau, Claudio Henrique, Marcos Siqueira, Raimundo Portal Negrão, José Luiz...? Alimentamos essas pestinhas pra depois morderem os nossos calcanhares, mas eram mordidas carinhosas, sempre colocando em evidencia as nossas contradições de educadores e educadoras. Eu, em meio a um emaranhado de contradições, convivi fraternalmente com todas essas criaturinhas tão críticas e criativas.
Que vozes eram essas que mexiam e mexem tanto com os meus sentimentos, que molham os meus olhos quando toco nas lembranças de tantas instigantes vivências? Neste momento que estou revisitando este espaço-tempo tão impregnado de saudades, entro numa sala, cujas paredes se viam a ação do tempo, mas dessas mesmas paredes saltitam cores, arco íris aquarelados, possibilidades de se reinventar os fazeres na sala de aula, de reencantar os olhares da comunidade escolar.
Que escola era essa que me fez ler "zilhões" de textos de apoio entregues pelo Manoel Batista, coordenador pedagógico e ainda da área de Matemática? Que “absurdo!” Que escola era essa que me despertava o desejo de nela ficar o dia inteiro? Que me enchia de tesão para as infindáveis reuniões de Área, de Inter área, de Conselho de Classe, de Conselho Escolar...? Que escola era essa que revisitava as tradições, que revisitava a educação, que criou a festa do papel, que criou o intervalarte – intervalo com arte?
Por falar em intervalarte... Foi uma criação de alguns professores-professoras com os educandos-educandas. Era pra acontecer durante os quinze minutos do intervalo, na sexta feira. Depois passou para meia hora. Com o passar do tempo ficou tão prazeroso que era difícil fazer a meninada retornar para a sala de aula e às vezes retornava, mas continuavam na sala de aula os acordes, a musicalidade, a vida em toda a sua dimensão. Era uma festa deliciosa que me fazia sentar na roda com eles-elas e cantar a Vida.
E os livros que eu li influenciada pelo pensamento de mudança, pela onda de encantamento, pelas possibilidades que gritavam diante dos meus olhos. Pelas gostosas coceiras na minha alma e no meu coração, influência de outras professoras e professores. Quem se lembra do Revisitando a Educação da Regina Leite Garcia, do Ismael, Meu Ismael e Historia de B, do Daniel Quinn, dos Setes saberes da educação, do Edgar Morin? Das leituras sobre Holística, lembra Airton Guedes Asdrubal, Aldenise Carneiro?
Foram tantas vivências... Eu fui revirada pelo avesso, fui questionada, questionei, me questionei, chorei, sorri, acreditei, desacreditei, reacreditei, amei, amei, amei... Imenso amor que fez e faz o meu corpo ser balançado pela saudade, pela esperança no coletivo, pela crença na ousadia, pelos afetos que aproximam pessoas.
Outro dia, eu estava caminhando na orla e um taxi parou ao meu lado, uma aluna saiu do taxi e se dirigiu a mim, dizendo: “professora quero lhe dar um abraço”. Uma vez você falou uma frase na sala de aula que fez com que eu não me esqueça de você. Eu perguntei qual era a frase e ela respondeu: “O conhecimento só tem razão de existir se for colocado a serviço da vida”. Eu creio nisso, embora ache que a frase não seja minha. Mas de tudo ficou a alegria pelo carinho e por saber que de alguma forma eu toquei o coração desta aluna e de muitas outras pessoas.
E essa ternura se espalha em cada encontro meu com as pessoas que estudaram e que trabalharam no IETA. É sempre um encontrar pleno de alegria, de amor, de partilha de sentimentos, de reconhecimento de uma historia vivida e compartilhada entre rebeldias, ousadias, sonhos...
Na escola das gaivotas eu me fortaleci no trabalho coletivo que me despertou para a construção da paciência, da co-responsabilidade, para a escuta, para o aprendizado das palavras, para a cumplicidade de um projeto sonhado coletivamente.
Na escola das gaivotas aprendi a arte de construir asas, de colorir  penas, de ensaiar voos, de aprender coisas. Desaprendi tantas outras, cutuquei os meus pássaros para que deixassem as gaiolas e reaprendessem a voar. Enchi meu coração de ternura. Em alguns momentos me fiz deserto. Em outros, transbordei minhas raivas, minhas contradições, decepções...

Contudo, tenho profunda gratidão a cada gaivota pela arte de recriar sonhos e asas.
Dúvidas sobre o tempo
Quem sabe me dizer que dia é hoje?
Será que o contador não se dopou e dormiu dias infinitos?
Esquisito duvidar dos calendário?
E quantas luas se passaram enquanto
o pensador pensou que não dormia?
Será que o tempo tem pressa?
E porque teria se dizem que ele é o senhor dos destinos,
dos caminhos, dos moinhos de moer escolhas?
Ah, poeta...
Me diga quantas voltas a terra já deu em volta do sol?
E quantos girassóis tombaram na dúvida?
Desde que na Terra você chegou,
quantas coisas você mudou, quanta música você cantou,
quantas estrelas você catou de um chão molhado
do doce chamado que há na arte de viver?
Cálida brisa
Hoje, o rio desaguou o seu pranto,
mas dentro de mim ele deságua saudades
O rio chora, o rio geme, o rio sofre, o rio fala,
mas dentro de mim a gota d’água vira uma fonte
cristalina de águas divinas, de águas abençoadas.
O rio canta, o rio dança, o rio encanta,
o rio alcança o seu mar de águas doces
O rio é rua, o rio é leito de se fazer amor, sem dor
e tem o cheiro da brisa cálida do entardecer.
 O rio é um pedaço inteiro do meu amor que enche e vaza,
mas que se aconchega no meu peito
no silêncio de todas as repontas...
É pra você...
Para embelezar o jardim do seu olhar!
Pássaros e balões
Hoje assustei quando a águia decolou
e borrifou meus cabelos de desejo
Desejo de voar, de libertar todos os pássaros,
até aquele que se aninha em minhas mãos.
Quis também soprar do lugar mais alto, as
bolinhas de sabão que vi nas mãos
de uma criança, quis soltar balões,
encher o infinito de brinquedos em voo,
 fazer uma corrente de amor
e encantar os olhos dos homens.
Do meu jardim para você, com o carinho de sempre...
Celeiro de belezas
De onde vem o vento que,
quando triste uiva, quando alegre, canta?
De onde surge a lua, tão bela, tão radiante,
tão nua que, inunda a rua de luz e de amor?
De onde brota o botão de flor que
agora surge no meu jardim?
O vento sai do hálito doce do mar
A lua nasce da cor escura dos seus olhos
e o botão de flor rasga o segredo
do seu ventre e vira mistério.
Vento, lua e flor tragam beleza e amor
e derramem no meio do mundo.

O retrato da saudade
Ando por dentro do meu passado,
 releio historias, destranco baús,
desenho estrelas nos escombros cobertos de cinzas,
acendo os lampiões e penduro pra você na janela azul,
um poema de quatro versos.
O passado veio me visitar,
veio sem calçado, vestido de chita,
cabelos trançados amarrado com fita vermelha.
Trouxe-me um punhado de memória,
um toque de sagrado, um sorriso de criança,
o olhar da infância, um misto de inocência
e uma saudade emoldurada,
amarelada pelo tempo.

A outra metade
Pelos caminhos da vida foi ficando pedaços
de minha história, retalhos de amor,
estação sem metrô, outono sem primavera,
olhares perdidos para além da janela
e tantos suspiros sufocados nos fins de todas as tardes.
Pelos caminhos da vida,
 florida foi a minha imaginação, fantasiei um sonho,
bordei na minha espera um tempo de quimeras,
um tempo de perdão.
A solidão tomou minhas mãos,
silenciou meus versos, fez dormir a minha inspiração
Na outra metade de minha história,
o vinil toca na vitrola, o quarto se enche de canção
  e faço da espera a minha ressurreição.