Brincando com o olhar
Meus textos ainda rabiscados e minhas palavras escritas pelo avesso cortam ao meio o sentido de se dar um sentido para a vida. As letras vão aparecendo na tela do meu computador e vão ficando solitárias como um veleiro num mar distante numa noite de tempestade. Pouco a pouco os meus dedos se perdem e se esquecem de teclar, e estas letras se perdem no horizonte travesso que roubou o meu olhar.
Eu não sei se há apenas uma realidade. Mas sei que os olhares que a olham são infinitos. Mesmo com o coração entristecido e a alma desolada, o meu olhar que cegou para as letras e se aconchegou no horizonte, buscou na terra gotas de cristais.
Minha casa é quase que cercada pelos capinzais. Hoje acordei cedo e percebi que havia chovido à noite. Abri a janela do quarto. Como a minha visão para longe é deficiente, olhei para os capins e então, vi um canteiro de cristais a brilhar e a mudar de cor a todo instante. Fiquei olhando aquele toque de magia e de repente o horizonte virou um salão de festa e olhem que num instante atrás ele tinha a cor de um sepulcro!
Bebi lentamente essa energia e a dor que eu estava sentido na costa e na alma quase desapareceu. Decidi sorrir de novo!
Passado o encanto coloquei meus óculos. Outra visão se colocou diante de mim. O que antes eu via brilhando como cristal, agora vejo que são pequeninas gotas esquecidas na noite de chuva. Visualmente já não havia brilho e nem cores diferentes. Apenas gotas de orvalho, nem por isso menos bela.
Então, me pus a brincar com o meu próprio olhar. Olhei para o alto, para o céu... Quando me permiti vivenciar intensamente a tristeza que eu sentia, o céu pareceu estar de luto e de cada nuvem caia uma lágrima. Depois dos cristais o céu ficou celeste, nuvens entravam uma na outra e pareciam crianças brincando, artistas borravam com cores e formas diferentes suas obras pintadas em telas de marfim, músicos escreviam nas estrelas suas notas musicais e as bordadeiras penduravam lindas cortinas nas janelas de anjos poetas.
Os meus tantos olhares saíram a caminhar, olhando o passado, olhando o agora e olhando o que virá. Correu com o vento, se escondeu das ondas salgadas, deitou ao lado da folha e virou terra, voou com as gaivotas, nadou com os botos pretos da Amazônia, se fez botão de flor e se despetalou durante os vendavais. Os meus olhos olham o que a minha alma sente. Mas o meu sentir parecem girassóis no Jardim Sagrado da Vida. Eu me abandono aos cuidados da espiritualidade amorosa e cuidante, porque ainda não sei, sozinha cuidar de mim mesma!
Meu olhar segue às andorinhas que, em bandos mancham o espaço de belezas e fazem o tempo virar um jardim de eternas saudades! E este, te acolherá em algum canto encantado, e o teu sorriso enfeitará as primaveras que virão num outro tempo, no qual, as vidas possam ser cuidadas e exalem os mais doces “xeiros” no jardim iluminado da Vida!

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