Onde estão os nossos olhos
Bebo o dia com ternura, com ousadia-rebeldia de quem escolhe a alegria como bandeira de vida. Na imprecisão da vida é necessário fazer escolhas. Ao longo do tempo estou aprendendo a escolher o meu querer, meus caminhos por onde sonhos e destino caminham e hão de caminhar. Nesta peregrinação terrena e cósmica aprimoro meus olhos, eles são como faróis...
Tenho olhos para caminhar pelo mundo e olhos para encantar a alma. Não posso fugir do meu caminho humano. Ando, me entranho na multidão e convivo com o medo, com a dor, com a estranheza, com a euforia, com outras alegrias... Mas, também, tenho olhos para o invisível, para a fantasia, para a poesia, para a transformação... Esses olham para os altos muros e ver o florescer da vida entre os tijolos, ver no muro cor de cinza uma galeria de arte, com rabiscos de crianças, com marcas da infância, com poemas de amor. Escuta, também, a voz da vida que pulsa do outro lado... Nas estradas do mundo eu ando sempre com um balde com tintas, pincéis e com as vozes do meu silencio interior.
Meu olhar ao mesmo tempo em que sustenta o meu estar na terra, que me lança no espaço-tempo como aprendiz da vida, também, me alimenta, embeleza a minha essência, perfuma o meu respirar, energiza a minha esperança e me transforma em jardineira do mundo e da poesia.

Creio que muito dos nossos sofrimentos chegam a nós pelo olhar. Neste mundo da modernidade acelerada, muita das nossas raízes, parece que estão sendo arrancadas sem que percebamos. Esta perda de nossa autonomia amorosamente humana está nos arrastando para uma coisificação horrenda. Eu estou no meio desse vendaval, mas, não quero naufragar. Por isso é que em meio aos banzeiros do mundo me agarro nos galhos secos que estão de bubuia, pois, neles pousa os pássaros, encosta os mururés, faz festa a revoada de borboletas...

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