Flor de Lótus
Outro dia um jardim de Lótus andou por dentro de mim. Eu estava triste. Um fétido lodo grudou nos meus pés, respingou nos meus olhos e cegou o meu olhar. Não desisti de caminhar, mesmo que a cegueira fizesse eu tropeçar em meus próprios passos. As flores de Lótus me tomaram pelas mãos. Com delicadeza me aguçaram o olfato para que inebriada eu ficasse com o perfume que exalava de seus caramanchões. Fui acolhida e cuidada pela pureza de Lótus, que, com a sua luz irradiante encharcou o meu ser de amor. Com isso, o asqueroso odor foi secando e soltando-se de meu corpo. Minhas pernas foram criando asas e deixaram no fim do caminho o jugo pesado do medo. Eu medrei da escuridão lodosa das águas.
Sentindo Lótus na alma, corpo-mente inundam-se do Sagrado que habita um altar por entre as estrelas. Ou por entre as pedras, que quando em nossas mãos dá pra sentir o quanto são belas e misteriosas.
Lótus é a mão sagrada do Divino que faz a experiência de ser flor, mistificando a manifestação e expansão espiritual nestes caminhos terrestres. É esta mística que me ensina a perceber os centros de consciência do meu corpo e a fonte de luz que habita a minha alma.
Lótus acaricia meu peito que hoje se abre para a singeleza do belo que há na espiritualidade. Toca meu ventre imaculado pelo dom de aninhar vidas. Instiga a minha ousadia de abrir caminhos por entre as borboletas.
Lotus me olha com os olhos da sabedoria que sabe perceber o vazio que há na dualidade. Me ensina a indivisibilidade da Vida. Ela emerge do fundo lodoso e nem por isso se suja. Suas pétalas estão sempre perfumadas e a sua pureza, mesmo tocada pelas impurezas da lama, brota bela e magnífica como uma canção que explode na voz do artista. Me ensina ainda, que todos os pés que tocam com carinho e ternura o chão circular da vida, fazem nascer flores de Lótus. Esta magia é como uma criança que em meio a travessuras vela o meu sono e brinca com os meus sonhos.

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