BLOG DA DEUSA: PELES E PÉTALAS
Na
borda do coração
Saudade não é ausência,
saudade é o amor que caminha
pelas bordas do coração,
que abre o portão da alma
e faz chover nos meus olhos.
Sinto saudades quando
o disco da memória
toca as canções que
outrora cantamos.
Sinto saudades toda vez
que o vento traz, das flores,
o nosso perfume.
Sinto saudades quando abro
os velhos álbuns que guardo com
as nossas fotografias.
Sinto saudades de tantos
sonhos que sopramos ao vento
Saudade não é ausência,
é a permanência de quem amamos.
E lá
vem...
Chão molhado,
coração encharcado de ternura,
um pássaro voa,
cai uma folha
e a terra bebe as gotas de chuva
que chegam de mansinho.
O céu escurece,
esquece das nuances cinzas
onde o bem te vi faz o seu ninho
e chama por seus filhotes.
Meus olhos se molham de gratidão,
mansidão, leveza, delicadeza
Quanto tempo ainda
vai precisar chover para
aquecer o coração de tantos...
Rio Araguari
Eu vi a tarde,
ela vinha macia,
jogando um pouquinho de seu
dourado sobre as pedras
e as pedras banhavam
a correnteza do rio Araguari.
Ameaçava chover,
mas as garças desconhecem
os perigos das grandes aguas,
se é que tem perigo.
As pedras voavam,
as garças nadavam
e o meu olhar era uma prece.
Eu vi a tarde,
a tarde me viu e no céu
de escuras nuvens
vi dançar um poema.
Eu vi a tarde,
ela era um botão
Eu vi os amanheceres
e eles já eram flores.
Flores
Que singeleza! Que beleza!
A natureza encanta,
canta e quem planta
enche os olhos de ternura.
As flores brotam, desabrocham
e fazem nascer jardins
nos olhos meus.
Nesses tempos
de tantos desalentos,
as flores transbordam,
bordam a imensidão de um tempo,
tão efêmero, diáfano,
capaz de fazer brilhar
e perfumar as estrelas da alma.
Lasca
de um poema
Te
procurei em algum lugar do infinito,
te
encontrei,
mas
você sumiu entre os verso do Neruda,
te
procurei, não te encontrei
e
sentei nas tabuas soltas
de
um velho trapiche.
Chorei...
O
grande rio colocou em minhas mãos
um
lenço que cheirava a jasmim,
o
jasmim de nossas saudades.
Bebi
a tarde que tinha o sabor
de
um gostoso café.
Indo
embora, o velho e encantado trapiche
me
abraçou, me entregou uma lasca de sonho,
um
poema feito de água
e a singeleza de um novo caminhar.
Rabiscos
do tempo
Pensei
te encontrar no banco de pedras
Lembra
quando você,
nelas
se encantou?
Te
encontrei nas cordas do violão,
no
texto que rabiscamos juntos,
nos
sonhos derramados
em
meio à multidão.
Achei
também,
a
nossa velha sacola onde
guardávamos
as sementes de paz,
as
sementes de amor.
Quando
quiseres me encontrar,
vou
estar nos vinte poemas de amor
e
uma canção desesperada, de Neruda.
Vai lá, o horizonte é nossa casa...
Meus faróis
Esqueci o silencio dentro de mim,
sofri, plantei outro tempo,
também de sofrimento
e sem poesia.
Pisei no capim,
despetalei sagradas pétalas,
soprei para longe
o morno vento,
toquei fogo nas madrugadas,
joguei tempestade nos entardeceres
e ervas daninhas nos jardins.
Escutei o sabiá cantar pra mim,
era madrugada,
pintei meus sonhos de esperança,
abracei o travesseiro da paz.
O vento tocou minhas mãos,
cuidei dos jardins de flores
e de carnes, jardineira, detive
as primaveras,
gentilezas e utopias voltaram
a florir meus sonhos.
Escolhi não apagar os meus faróis...
E o vento
O vento bate no poema do tempo,
uma prece aquece o que há de vir
e no meu peito renasce
todas as saudades.
Saudades da lua,
saudades do sol,
saudades da chuva,
saudades da curva da estrada
que marcou o nosso tempo.
O vento de dezembro traz esperança,
andanças e infinita luz.
O vento, o tempo deixam marcas,
pegadas nos caminhos,
sino, templo distante
e ainda tem ciranda que movem
os passos meus.
E o vento enxuga uma lagrima...
Ousadia e candura
Um velho castelo, um lago,
um céu de sóis e luas,
uma deusa entranhada numa montanha,
distante de meus olhos
como um horizonte perdido entre sonhos e solidão.
Solidão cheia de primaveras medra
entre musgos, cantos de rouxinóis
e pingos de vida que tecem a linda Teia.
Carretéis voam em auroras radiantes de ternura
Onde está o medo? convive entre rosas, ousadia e candura.
Um
brinde aos outubros
Eu espero a chegada
de algum outubro como a mãe
que espera a volta do filho amado,
como o jardineiro que espera
seu jardim florir,
como o vigia espera o amanhecer,
e como o tempo espera a aurora raiar.
Nos outubros,
as luzes começam a brilhar,
há o anunciar da chegada do amor,
há romarias e cirandas de crianças
que não perderam o desejo de sorrir.
Ainda há flores pelos chãos,
ainda há doçura nos corações,
ainda há sonhos embalando multidões.
Brindemos os outubros!
Ventos de setembro
Ventos de setembro juntando
o que foi ficando pelos caminhos,
revoada de borboletas
coloridas, vestidas
de amarelos, azuis, verdes,
cinzas, belas, aquarelas, infinita cor.
Voavam ao vento
se agarrando num colar de estrelas
ou quem sabe,
num, fio de horizonte.
Algumas pousavam no andaime
do tempo e ficavam,
parecia que esperando
a volta do silencio,
trazendo as ousadas irmãs
que se deixaram levar por
tantos outros ventos.
Passou a ventania de setembro
e ficou um tempo de saudades...
Nove de julho
Que a gratidão seja o meu momento,
o meu tempo
e a minha eternidade.
Que a gratidão seja a minha travessia,
a minha alegria
e minha chegada.
Que a gratidão seja o meu sonho,
o meu prumo,
e minha realidade.
Que a gratidão seja o meu caminhar,
o meu respirar
e minhas saudades.
Que a gratidão seja a redenção
de minha santidade
e de meus doces pecados.
Gratidão a vastidão da Vida.
Lua azul
A lua azul toda faceira,
vedou os olhos do São Jose
e fez amor com o rio Amazonas.
Feiticeira que é encantou a palmeira,
beijou seus viajantes enamorados
e semeou luz aos navios
e aos pequenos barcos.
Lua, linda lua, por que não pousaste
nos meus olhos?
Por que acordaste em mim a saudade?
Era outro mundo, era outro cais,
era um cair de tarde
Não tinha retrato sem moldura
e nem poema sem passado.
Lua azul, lua vermelha,
tinge esse grito calado,
cala o silêncio falado
e planta amor no duro asfalto do tempo.
O cheiro da flor
Sonhei com você
Vi você em meio à multidão
Tive medo, encontrei o passado,
foi um rápido toque de mãos
que quebrou o silêncio, tocou no cálice
e o vinho foi ao chão.
O distante estava perto
e perto é muito longe
O tempo passou mas
o cheiro da flor não envelheceu.
Entardeceu para nós,
amanheceu para a saudade
Cochilei, sonhei outro sonho,
nesse eu te abracei
como o vento que acolhe a folha
que segue a incerteza de seu voo.
A lua resplandeceu
e nas minhas mãos
ficou apenas a cor de teus olhos sem cor.
A volta
das borboletas
Nunca tive dono
e nem fui dona de ninguém
Ousadia não me faltou
e diante do céu azul eu já dancei
todas as cirandas.
Nasci numa manhã de julho,
chorei num mês de agosto,
gratidão ao agosto que me fez
costurar todas as saudades.
Hoje, me acostumei,
a cutucar luas, namorar as estrelas,
recolher gotinhas de orvalho,
abrir portões
e esperar que as borboletas voltem...
Rebeldia
Quiseram calar meu sonhos,
apagar os meus faróis,
quebrar os meus cristais,
escurecer minhas noites,
trasmudar minhas auroras,
despoetisar a poesia.
Mas a Vida não obedece ordens,
sonhos são ventos,
faróis iluminam,
cristais são gotas de orvalho,
noites e amanheceres são dádivas,
o mar é magia e a poesia é plenitude.
A esperança é transgressão,
a utopia é comunhão,
a saudade me toma pelas mãos
e tudo amanhece outra vez.
Cultivando vidas
Cuide bem de você
Cuide com amor de quem está
ao seu redor
Cuide de seus quintais,
cuide dos seus animais.
Escute música, cante, seja música,
encha o seu nicho ecológico
de suave sonoridade,
leia romances, seja romântica,
leia poesia, seja a poesia,
espalhe luz por onde passar
Nos somos de luz.
Eu danço contigo,
canto, cultivo meus jardins,
planto rosas, orquídeas,
helicônias, girassóis...
Sempre sonhei ser parteira,
por isso faço nascer sonhos,
belezas, fantasias, cirandas...
Nossas mãos se fazem sagradas,
sempre que plantamos,
que ousamos acreditar no inacabado,
Sempre que reinventamos
e recriamos nossos passos,
num caminho bonito e revelado.
De amores e de tempo
Hoje, o amanhecer amanheceu sozinho,
sem sol, sem nuvens,
sem réstia de noite,
sem cheiro de café.
Até os lençóis se rasgaram
por tanta solidão,
mas não é que de repente,
o hoje avistou um fiozinho
de lua, no horizonte!
Depois a lua apareceu, o sol surgiu
e um pássaro gigante, rasgou as nuvens
e o amanhecer viu o seu amor, descendo
numa folha que,
carinhosamente, caiu do céu.
São assim, os amanheceres,
como as folhas dos buritis,
como os amores perdidos no tempo...
Pensar com os olhos
Fechei a porta do pensamento
Abri a porta dos meus olhos
Pensar cansa os meus cristais,
as vezes afasta o que é belo,
conduz a um tempo
sem cobertor, sem cor e sem quimera,
sem o pulsar de um abraço apertado.
Muito já pensei,
muito me afastei do meu
reverberar poesia.
Quando abri meus olhos,
vi um rouxinol azul,
um arco íris pintado de gente
e a urgência de criar poetas.
Incertos passos
Meus ouvidos são tocados
por uma voz que vem de longe,
bem de longe
É uma música tocada pelas marés
É o canto das aguas,
é o cantar dos sonhos...
Não sei se vem do mar,
não sei se vem dos rios,
mas é um cantar que me chama
para a magia de amar.
Meus cabelos são acarinhados
pelo vento, soprado de algum lugar,
lá de onde os pássaros cantam,
as flores balançam
e o meu olhar se veste de saudades.
Ando na rua, mas parece que
a rua é mar, tudo dança,
até a solidão do meu caminhar.
De amor e de horizontes
Hoje, eu deixo uma rosa
na borda do silêncio,
um sopro nas linhas do entardecer,
um amém para a oração
que sai do coração de quem
crer em sonhos e utopia.
Hoje, um raio cortou o céu,
acendeu na noite, estrelas e vendavais,
costurou o medo que machuca o meu peito,
quando no céu se acendem os cristais.
O hoje já não é hoje,
Mas, um tom cinza que resolveu
seguir uma nuvem sem cor,
feita de dor, de amor e de horizontes.