Velho coreto
O velho coreto me viu sentar
sobre um mais velho banco feito de
restos de mar
Sentei para colher o sorriso da tarde,
o cochilo do adormecer,
a caricia do vento norte sobre minha
pele.
Sentei para pescar felicidades
O nada me enfeitiçou, o tudo posou no
meu olhar
Escutei a agua cantar,
ouvir a saracura voar o seu voo de
adeus.
Sentei para imaginar que sonhos o mar
sonha
no convés daquele navio
Sentei para sentir saudades...
Decifrando o olhar
O que será que olha os olhos meus?
Distraídos estão na varanda
de um aconchego qualquer...
de um aconchego qualquer...
Tudo em volta está vivo:
a madeira torcida, a casa caída em ruínas,
as cinzas do velho fogão, o terreiro
varrido,
a terra abatida, cortada ao meio
como caroço de saudade.
como caroço de saudade.
O que olha os olhos meus?
O mistério do rio, o córrego quase
vazio,
o distante horizonte deitada à sombra
dos açaizais.
Olho a quietude do tempo,
a ternura vivida no momento
e o encanto do canto que canta o cantar
do que ainda virá...
do que ainda virá...
Entre
os arrozais
Eu escolhi te amar, te esperar,
te adornar com a beleza das estrelas,
cantar o teu canto de paz.
Escolhi o teu nome como se escolhe
a poesia do encontro
a poesia do encontro
e o escrevi no meu livro de poemas,
entre versos, rimas e afetos.
Quis contigo criar a boniteza dos sonhos,
sentar à sombra do tempo, beber o sabor
do silêncio
que um dia sopramos aos cuidados do
vento.
Hoje, quero criar outros caminhos,
caminhos que nos levem ao tesouro
escondido,
talvez, perdido entre os arrozais,
talvez, pendurado no ipê da esquina
silenciosa...
Paralelos
Emoções singelas rasgadas
Desejos cortados ao meio como fatia
de bolo de chocolate
de bolo de chocolate
Pés molhados de sabão falam de solidão,
de bem viver e de um imenso sertão
tomado
de águas serenadas.
Desvairado querer além da intensidade de
um tempo
e da imensidão de outro espaço desenhado
com traços, silhueta de pássaros
e flores nascidas nas pedras.
Cores mortas vivas pintadas no vento norte,
correm prados, montanhas e vales
até pousar num horizonte encharcado de
riachos,
galhos quebrados, paralelos e sonhos...
Ode
à vida
Ode ao silencio de tua voz
que canta aos meus ouvidos,
as cavalgadas estrepitas que anunciam
a tua chegada,
a tua chegada,
ao cheiro gostoso de teus cabelos que
perfumam
a boina que me deixaste como herança.
Ode ao sabor de tuas lembranças,
quando nas manhãs vespertinas descia a
ladeira
arrastando um saco bordado cheinho de
jornais,
de flores e de sangue.
Ode a vida bradada, ferida,
ungida de belezas e sonhos,
de ousadias, tesão e compaixão
para com quem tece o mundo com as
próprias mãos,
mentes e corações.
Ode ao gostoso sabor do silencio...
Espinhos e carinhos
Te acalantas no meu peito,
mimas minha alma, enfraqueces meu infinito,
fortaleces os jardins de carne
que preservo como tatuagens naturais da pele.
Nesses caminhos de ousadias,
prantos e alegrias,
meus pés se machucam pelos espinhos do
caminho
e sangram, sangue de flores,
de dores e de sonhos.
Aprumo os meus pés na estrada,
cortada ao meio por um belo destino
tecido com linhas e rosas.
Logo de manhã
O aroma do meu café se entranhou no seu
sorriso
O cheiro dos meus cabelos se deitou
nos seus sentidos
nos seus sentidos
O cheirinho da saudade invadiu o seu infinito
e pousou no mágico dos olhos seus.
O aroma da manhã, bebido de esperança
alimenta o que não se alcança com
os toques das mãos,
os toques das mãos,
mas é o coração que faz cochilar a
razão,
se enfeita de paixão e vivencia todas
as cores da vida.
as cores da vida.
O aroma do Ser não sabe esquecer,
simplesmente ama, ama, ama...
Velho trapiche
A poesia nasce das coisas velhas,
quebradas, carcomidas pela memória da carne,
nasce da beleza silenciosa
Avistei esse velho trapiche
e logo me veio uma imensa saudade.
Saudade da vida vivida,
dos desejos quase esquecidos no baú do
tempo,
da aurora que ainda põe sobre a velha
madeira
os seus raios de luz.
Doce visão poética que me aponta o
horizonte,
que enche meus olhos de arco íris,
que remexe as lembranças
que cochilam no fundo da alma.
Meu velho trapiche quebrado...
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