Uma flor
Meu deserto é feito de pedras
Meu deserto é feito de carne,
vive em minhas entranhas,
me cala, me fala,
me sangra,
por isso é sagrado.
Sempre que posso
deixo uma flor em meu interior,
solto ao vento o meu silêncio,
se ainda sangrar,
costuro nas cicatrizes,
beijos, versos e saudades.
Moro em desertos
com janelas para o horizonte.
De novo, novo
A dor da dor é saber
que a dor passa,
que as cicatrizes saram,
que as lagrimas viram pérolas
e que as estrelas pousam nos olhos,
outrora cheios de dor.
O sabor do amor
é saber que o amor salva,
que faz florir velhos jardins,
que transforma abrigo
em ninho acolhedor.
A saudade é como as águas
do rio Amazonas,
ora transborda,
ora se borda de sereno fluir,
sem tempo e ponto de chegada.
A beleza da poesia
é saber que ela é fugidia,
como o sol nas manhas de abril.
Num dia desses
Visto de luz todas as minhas saudades,
pinto de agua as minhas tristezas,
envio para a lua, os sonhos que
sonho nos meus travesseiros
e os sonhos sonhados no coletivo
eu sopro ao vento
Quando sonho junto com outras
e outros revivo as todas as utopias.
Visto de mistérios minhas fantasias,
de divindade minhas verdades,
de esperança os pés de quem abre caminhos
em meio a historia em construção.
Assim abro o meu coração
e costuro os meus retalhos
que foram deixados sob a colcha do tempo.
Na
borda do coração
Saudade não é ausência,
saudade é o amor que caminha
pelas bordas do coração,
que abre o portão da alma
e faz chover nos meus olhos.
Sinto saudades quando
o disco da memória
toca as canções que
outrora cantamos.
Sinto saudades toda vez
que o vento traz, das flores,
o nosso perfume.
Sinto saudades quando abro
os velhos álbuns que guardo com
as nossas fotografias.
Sinto saudades de tantos
sonhos que sopramos ao vento
Saudade não é ausência,
é a permanência de quem amamos.
E lá
vem...
Chão molhado,
coração encharcado de ternura,
um pássaro voa,
cai uma folha
e a terra bebe as gotas de chuva
que chegam de mansinho.
O céu escurece,
esquece das nuances cinzas
onde o bem te vi faz o seu ninho
e chama por seus filhotes.
Meus olhos se molham de gratidão,
mansidão, leveza, delicadeza
Quanto tempo ainda
vai precisar chover para
aquecer o coração de tantos...
Rio Araguari
Eu vi a tarde,
ela vinha macia,
jogando um pouquinho de seu
dourado sobre as pedras
e as pedras banhavam
a correnteza do rio Araguari.
Ameaçava chover,
mas as garças desconhecem
os perigos das grandes aguas,
se é que tem perigo.
As pedras voavam,
as garças nadavam
e o meu olhar era uma prece.
Eu vi a tarde,
a tarde me viu e no céu
de escuras nuvens
vi dançar um poema.
Eu vi a tarde,
ela era um botão
Eu vi os amanheceres
e eles já eram flores.
Flores
Que singeleza! Que beleza!
A natureza encanta,
canta e quem planta
enche os olhos de ternura.
As flores brotam, desabrocham
e fazem nascer jardins
nos olhos meus.
Nesses tempos
de tantos desalentos,
as flores transbordam,
bordam a imensidão de um tempo,
tão efêmero, diáfano,
capaz de fazer brilhar
e perfumar as estrelas da alma.
Lasca
de um poema
Te
procurei em algum lugar do infinito,
te
encontrei,
mas
você sumiu entre os verso do Neruda,
te
procurei, não te encontrei
e
sentei nas tabuas soltas
de
um velho trapiche.
Chorei...
O
grande rio colocou em minhas mãos
um
lenço que cheirava a jasmim,
o
jasmim de nossas saudades.
Bebi
a tarde que tinha o sabor
de
um gostoso café.
Indo
embora, o velho e encantado trapiche
me
abraçou, me entregou uma lasca de sonho,
um
poema feito de água
e a singeleza de um novo caminhar.
Rabiscos
do tempo
Pensei
te encontrar no banco de pedras
Lembra
quando você,
nelas
se encantou?
Te
encontrei nas cordas do violão,
no
texto que rabiscamos juntos,
nos
sonhos derramados
em
meio à multidão.
Achei
também,
a
nossa velha sacola onde
guardávamos
as sementes de paz,
as
sementes de amor.
Quando
quiseres me encontrar,
vou
estar nos vinte poemas de amor
e
uma canção desesperada, de Neruda.
Vai lá, o horizonte é nossa casa...
Meus faróis
Esqueci o silencio dentro de mim,
sofri, plantei outro tempo,
também de sofrimento
e sem poesia.
Pisei no capim,
despetalei sagradas pétalas,
soprei para longe
o morno vento,
toquei fogo nas madrugadas,
joguei tempestade nos entardeceres
e ervas daninhas nos jardins.
Escutei o sabiá cantar pra mim,
era madrugada,
pintei meus sonhos de esperança,
abracei o travesseiro da paz.
O vento tocou minhas mãos,
cuidei dos jardins de flores
e de carnes, jardineira, detive
as primaveras,
gentilezas e utopias voltaram
a florir meus sonhos.
Escolhi não apagar os meus faróis...