Um bem querer
Deixo que o amor respire dentro de mim,
que brinque com os meus pulsos,
controle os meus impulsos, dance com a minha alma
Permissão que me acalma, como se fosse uma aura
que suaviza em mim um bem querer,
um conviver na paz.
Deixo o amor escutar minha voz, falar dentro de mim
o que eu preciso ouvir, ensinar o que preciso aprender
Fora do amor eu não tenho porquês
 E por isso amo o silêncio.
Amo escutar a conversa das pedras com a praia,
com as ondas macias, com a nevasca que adorna
as montanhas ao longe, cercadas de flores silvestres
Amo deixar o amor me amar...


Rosa Branca
Oh, rosa branca que no céu encantas,
vem me dizer desta dor que já não estancas,
vem me dizer como derramas o teu pranto
sem molhar a beleza de tuas pétalas.
Oh, rosa branca de ternura e de encanto,
que no entanto, sofres, pois a madrugada chega
molhando a tua brancura com o frio orvalho.
Oh, rosa branca que no jardim derramas o teu perfume,
exalando nos cantos sombrios,
a cura das almas em seus desenganos
Espalha na areia branca as nossas andanças
 e nas tardes vazias sara esta agonia 
que no meu peito dói tanto...

Olhos e pétalas
Pétalas caem dos meus olhos
e molham as belezas infinitas deste universo
Pétalas cairam dos meus olhos
e foram se juntando nos remansos
e fizeram nascer um rio de utopias,
de melancolias  e de cálida cor.
 A pétala que ontem caiu dos meus olhos soprou
sobre a aragem da tarde
que germinou roseiras de amor.
A tarde chorou sobre o meu terno colo,
se refez na imensidão azul quase cinza
e ancorou no convés do velho barco,
de meu velho pescador.
As pétalas que caem dos meus olhos viram roseiral,
jardim encantado, jardim orvalhado de amor.

A cegueira da gaivota
Uma gaivota voa de um lado para o outro
Suas asas dançam e suas penas cantam
Mas ela cansa...
A tristeza encharca suas penas e o seu coração
As palavras, sempre tão singelas,
agora magoam e machucam.
A gaivota tem o amor dentro si,
mas tem o desamor também
Sente a compaixão invadindo o seu ser
e sente a raiva nublar o seu olhar,
sempre que se afasta do mar.
Numa noite sem luar
recolhe-se no colo da sombra
e espera o dia raiar
para seguir o horizonte.

Uma janela para a chuva
Chuva torrencial...
Barulho delicado sobre o telhado, bom de se escutar
Desde a noite de ontem que o céu está nublado,
o horizonte molhado
e algumas tristezas me turva o olhar.
A chuva cai, o muro caiu, a flor se abriu,
os pássaros se recolheram em algum lugar,
goteiras surgiram no meu solar
e eu não consigo desviar o olhar da solidão
que toca minhas mãos e me convida
para um sarau de poesias, chuvas e de melancolias.
E a chuva continua cair
Eu acendo luzes no meu olhar...
Visão infinita
Um pequeno barco desafia
a imensidão do Amazona
Tem correnteza, tem maresia,
tem ventania e mistério
A quilha do barco corta as águas, risca as nuvens,
atravessa raios e no embalo da tarde deixa no céu azul
a marca de um sonho.
Quem de longe olha, perde-se num olhar distante,
num vulto andante cheio de fantasias
que tarde bonita, que visão infinita
que transborda meus olhos de amor.


Ilha
O rio resplandece em cor, cor laranja, cor de cana,
cor de café, cor...
A quilha do barco corta um tempo chamado saudades,
traz minha infância e a acomoda dentro dos meus olhos
e as lembranças se embaralham entre
 o pensamento e a imaginação.
E quando a fantasia alivia o meu cansaço,
respingando água nos meus cabelos,
o rio me presenteia como uma pequenina ilha.
Oh devaneio!
Como se segurar num rio de banzeiros e luar? 
Como não se desapegar da lama sagrada do rio Amazonas?
Como ficar a dançar entre as maresias,
as ventanias e os doces mistérios de navegar,
sem sair do lugar, 
mas alcançando todos os horizontes.

A poesia tem nome: Rubem Alves
Hoje, eu costurei um retalho novo
na colcha velha de remendos encardidos
franzindo linhas costurei retalhos coloridos e bordei jardins,
corais e céus estrelados.
A colcha foi se embelezando, o frio foi se aquecendo
e eu reconheci o meu sonho nas linhas de cada bordado,
de cada costura, de cada alinhavo.
Entre agulhas e carreteis eu vi uma borboleta amarela,
ela me trouxe uma saudade, saudade do Rubem Alves
e meu coração se encheu de girassóis e de ipês amarelos.
Rasguei mais um remendo velho...
Costurei girassóis no lençol amassado e a poesia
Rubem rimei no espelho do meu quarto.

Na infinitude dos meus olhos
Entrelaço meus cabelos na profundeza dos teus olhos,
desenlaço os emaranhados que apertaram
os laços de nossos abraços
e silenciaram nossos sonhos.
Entrelaço minhas mãos em meus próprios versos,
descrevo-os pra você como um jeito
de fortalecer o amor que se guardou dentro de mim.
Entrelaço minha doçura no cerne de suas dúvidas,
duvido que eu e você voltemos a adormecer
este tempo infinito, este amor bonito,
que não pode se tornar um adeus
adeus não cabe dentro dos meus olhos.
Em cada pétala um beijo meu...
Nos passos do vento
Quando o sol penetrar entre as duas rosas
que desabrocham no jardim,
quando a lua entrar pela fresta da janela
e beijar o seu rosto, abra os olhos,
sou eu que não aguentei a saudade
e vim remexer o seu pensamento,
sem desalento e sem magoa.
Quando minha imaginação tiver a leveza do perdão
e o sabor do pecado, olhe para o lado 
e veja o abraço que deixei pendurado
no tempo, nos passos do vento,
nos sonhos derramados
 no chão dos caminhos.
Este tronco eu ganhei de presente! É uma poesia que plantei no meio de meu jardim. Nele está incrustado os encantos das ribanceiras do rio Amazonas...
As cores do tempo
Eu vi as flores lilás balançarem entre abutres,
vi o sol se retirar para que a chuva viesse molhar o chão
e fazer florir o tempo das eternas crianças
e suas belas travessuras.
 Vi o azular do amanhecer acontecer,
mesmo que num segundo,
entre granizos e cristais.
Vi o reaparecer das nuvens que brincam
com a dimensão infinita do horizonte
e agora vejo a roseira rompendo as bordas do vaso
e o sonho fazendo brechas
                              nas paredes cinzentas do tempo.

Noite fria
Saborear a solidão da noite fria,
passar as mãos sobre os lençóis finos,
deitar nos travesseiros e escutar
a noite conversar com a chuva e com o silêncio.
Escutar a chuva cantar para agasalhar os meus medos,
medos dos raios que riscam a minha janela,
dos trovões que fazem tremer o colchão
que molda o meu corpo,
medo dos relâmpagos que assustam os meus sonhos
e quebram os meus frágeis vitrais.
Saborear a noite fria quando a saudade se transforma
num cobertor de estrelas e cobre com ternura
todas as minhas saudades.
Por aqui tudo se entrelaça, os olhos encantam a alma e a ternura voa na dimensão infinita do horizonte...
Ei, você está aí, olha o que estou postando pra você, com carinho...

Ressurgindo outra vez
Escureceu...
Desapareceu o arco íris
Os automóveis sucumbiram,
a água cresceu e transbordou os medos.
A neblina esconde o horizonte,
a ponte, de tão corroída, cedeu, afogando minha solidão,
o inverno intenso chegou e cegou meus tristes olhos.
As folhas caíram...
 A correnteza levou fetiches e fantasias
No fim do dia a solidão sentou na soleira da porta
Amanhã, tudo ressurgirá...
A água vai secar, o sol vai brilhar
e a ponte, mesmo quebrada,
será o caminho que me levará até você...
Eu desejo a todos vocês um entardecer encantador e que o domingo seja de bênçãos e de alegrias.
Minha gratidão e o meu carinho a cada um de vocês...
Remansos
A praia se perdeu de mim,
os remansos fizeram piquetes nos meus pés
Tão longe ficou meu destino desenhado
com letras de marfim.
O infinito se alargou...
 Sumiu com você pra longe de mim.
Pra bem longe te avistei,
seguirei tuas pegadas, nem que seja na madrugada,
ei de te encontrar.
O horizonte alaranjou e o meu amor de alegria respirou,
vou lá, estou chegando, vou te buscar...