Rabiscos
e garatujas
Agora
tem sido assim...
Um
rabisco aqui, uma garatuja ali
As
palavras fogem e se escondem num palheiro
onde
dorme as estrelas,
onde
guardas os teus olhos que ainda me falam de amor.
Mesmo
assim, o rabisco se faz partitura,
a
garatuja um poema inacabado,
o
palheiro e as estrelas se abrigam num
cantinho
de minha alma.
Agora
tem sido assim...
Desde
que a canção se fez pra mim,
escrevestes
em todos os folhetins
e a
nossa história de amor se bordou
num
ramalhete chamado saudade.
Sonhos
e desencantos
Dois
veleiros cortavam o mar
As
gaivotas meninas eram como nuvens
no
horizonte de imensas cores.
Veleiros
sem velas, velas sem veleiros
Céu e
mar se encontraram
Na
popa de um veleiro pousa uma gaivota
Na
proa do outro, dorme um sonho.
Ondas
de grande altura mostram sua rebeldia,
se chocam e lavam os veleiros de seus desencantos.
se chocam e lavam os veleiros de seus desencantos.
Velas
bordadas, velas rasgadas,
velas
atiçadas ao vento
De bem longe o velho
farol
pisca, sonolentamente...
A
cor do horizonte
Como
está belo o dia...
Está
tão azul, chega parecer púrpuro,
está
límpido de uma limpidez que se confunde
com
um urubu que voa riscando de outra cor,
a
cor quase toda azul do horizonte.
Hoje
meu planeta diz que o azul enraíza o amor na terra...
que
parece uma aquarela desvestida de sua cor
e
que se repintado for pode ser um canteiro
em
flor que acolhe todos os cheiros, temperos,
vozes,
sons, amores e sonhos.
Meus queridos amigos e
amigas, de perto e de longe...
Que não se esgote hoje em
nós a celebração da Páscoa...
Pascoa é passagem, é um
renascer. Que seja uma passagem para a primavera, para a
reflexão, para o perdão, para a compaixão, para um tempo novo de paz...
Que possamos reaquecer a luz
que brilha no interior de nossas almas. Folgar o nó dos laços
de nossos afetos.
Eu desejo que a beleza esteja presente
em nossas palavras. Que a ternura não fuja do nosso olhar. Que possamos
fazer essa travessia de um tempo difícil, com maestria, tendo
cuidado com o outro, professando nossas verdades sem agredir aqueles que possuem verdades diferentes das nossas.
Enfim, que possamos fazer
dos desencontros um encontro
entre irmãos e irmãs... Feliz
Páscoa....
Eu
quero ver
Eu
quero ver o meu país crescer,
não
para ser gigante, mas para ser grande,
no
jeito de acolher.
Quero
ver meu país se desenvolver
sem
derrubar as matas, sem poluir os rios,
sem
causar fome e frio nos que fazem do rio
o
seu país, a sua esperança.
Quero
ver meu país cantando o canto do conviver,
eu
quero ver sorrisos delicados, mãos entrelaçadas
e abraços
orvalhados de amor.
Eu quero
ver...
Quintais
de Pedras e borboletas
Plantemos flores nos nossos quintais.
Tanto nos quintais de chão, como nos quintais que afloram no coração e religam
mundos. Eu sou o meu quintal... Um quintal às vezes ensolarado, às vezes
sombrio, ás vezes envolvido em mistérios. Meu quintal não precisa de muros, mas
ainda possui piquetes que demarcam caminhos. Ao mesmo tempo é embelezado com
cercas tombadas de flores e folhas vivas, onde cresce ervas daninhas e onde as
borboletas fazem festa. Num quintal de pedras e de borboletas nascem musgos e
caracóis, tem janelas que se abrem para as estrelas, para as luas e para os
relâmpagos que rasgam as noites escuras de tempestades.
Sonho
meu
Hoje
eu sonhei com você
Este
sonho que me acompanha,
que
me enternece, que as vezes me entristece,
mas
que quase sempre injeta
sangue
novo nas minhas veias.
Vi você
no meio de uma ventania,
desequilibrou
mas não caiu,
se
amparou entre o tombo e a beleza da dança.
A
dança valsava entre nossos pés cansados,
entre
o chão escorregadio
e um
céu repleto de estrelas brilhantes.
Hoje,
eu sonhei com você e vou continuar
até que
o mar alcance o infinito.
Entre
açucenas e hortênsias
Que
sinfonia é esta que quebra o meu sagrado silencio?
Sinfonia
dos silêncios que que se faz barulho
sempre
que uma folha cai.
A
folha cai, o silêncio chora o pranto
do
passarinho que ao voltar pro ninho
não
acha seus filhotes
Esses
passarinhos fazem ninhos no jardim
entre
açucenas e hortênsias.
Que
sinfonia é esta que se esconde dentro de mim,
que
leva nós duas pelos caminhos do infinito,
que acolhe
com carinho
a
palidez do meu próprio silencio.
Minha casa
Minha casa tem alma...
Tem a calma das sombras,
tem o barulho das flores que andam pelo quintal,
tem um portal sagrado de onde eu converso com as estrelas.
Minha casa tem o cheiro dos meus ancestrais,
tem a cor de todos os carnavais
e tem um varal de estender roupa,
de pendurar poemas e de equilibrar orvalhos.
Minha casa tem silêncio...
Tem um improvisado banco de madeira
e uma velha cadeira que sento para
costurar os meus versos.
Como
um passo de dança
Cai
pingos de tristeza,
cai
chuva de esperança, um passo pra trás,
um
passo na andança,
a
temperança, o caminho, o medo, são passos
de
dança que vão acendendo as luzes do palco.
O palco se ilumina com a luz das lamparinas
e
nem precisa de purpurina, o brilho da dança recria
a
esperança e os sonhos se sonham nos invernos da vida.
A
Vida respira, gesta, brinca
e
germina entre as pedras dos caminhos,
entre
cascatas cristalinas, entre horizontes penumbrosos.
A
vida engravida e faz nascer o AMOR.
O
mar e eu
E da
calçada fotografei o mar...
Apertei
os olhos para enxergar mais longe
Vi o
voo da andorinha riscando o céu, tão incerto,
tão
leve, tão perto de Deus.
E da
calçada fotografei o mar...
Vi crianças correndo na praia
erguendo castelos de areia e sonhos.
Vi a garça a procura de alimento
Vi minhas mãos
trêmulas, a calçada quebrada
e a fotografia molhada de mar
Eu vi a calçada, a garça, o voo, a inocência
e a praia
mas a andorinha sumiu na fantasia dos meus
olhos.
Alma
cigana
Hoje
vesti uma saia cigana toda florida
com
as cores do encanto
Cantei
uma canção escrita pelo coração
e
sorri para o meu mais belo sorriso.
Vesti
a saia cigana e rodopiei até ver o mundo como
se
fosse a própria dança
Num
cantinho do salão vi você,
nas
mãos estava o seu violão, no olhar
a
antiga emoção que pensei ter deixado no passado.
Sou cigana de alma, a estrada é minha casa
e
tenho a missão de semear flores por onde passo
Nos caramanchões
acendo lampião
e a
assim a emoção pinta de amor os meus olhos.
Costureira
do tempo
Costuro
você em mim, me costuro dentro de ti,
costuro
nos vestidos de cetim todos os jardins para
que
não falte flores nas mão das costureiras.
Costuro
o tempo para que eu ande livre,
sem relógios,
sem calendários, sem espelho, sem pressa...
Assim,
o tempo não foge
e eu
posso plantar violetas nas janelas,
bordar
aquarelas nos calos dos caminhantes
e
riachos para lavar as lagrimas que se tatuaram
na
pele de quem perdeu a fé na vida.
E no
meus olhos eu desenho saudades...
Canetas
e moleskines
O silencio
dorme dentro de mim,
extrapola
a alma, se espreguiça no voar do sabiá
que
quase risca os meus olhos.
Hoje
o meu silencio tem a cor da fumaça
que
vejo ao longe arder o horizonte
Há um
punhado de tristeza na tinta da caneta,
um
canto aqui, outro ali e outro acolá,
sapos
e sabiás entornam ao meu redor uma suave melancolia.
Apenas
uma borboleta sobrevoa as flores
e
enxuga uma lágrima que saudades e belezas
deixaram
molhar o meu moleskine.
Perguntas que a vida me faz
Hoje a vida me perguntou sobre a flor que se abriu
em minhas mãos, perguntou
aonde eu guardei
as minhas utopias, as fantasias com as quais
eu desenhei o meu mundo.
Perguntou sobre a criança tímida que morava no meu olhar,
se ela hoje me faz cantar cantigas de ninar
e dançar cirandas, delirar com a ternura das mãos
que se tocam na roda.
Respondi que a
flor virou um mutirão de amor,
espalhou sementes e ainda hoje faz nascer jardins
As utopias são a alegria do dia
São tessitura que eu teço desde que amanheço
e quando adormeço se transforma em sonhos e realidades.
Sobre a menina tímida? Ela ama o silencio....
Roseiras molhadas
Flores murchas no jardim,
folhas caídas no chão
por do sol beijando as calçadas,
chuva alagando as estradas,
sonhos derramados na alma
de quem não cansa de sonhar.
Orvalho molhando as roseiras,
pétalas serenadas, sugadas pelo beija
flor
Rouxinol cantando na avenida,
sabiá bicando na vitrine onde há uma
rosa de plástico.
Flores murchas no jardim, sementes
penduradas
no balançar da varanda...
Infinito
encanto
Acabo de acordar,
escuto o cantar da chuva lá fora,
do telhado molhado escorre a água que
transborda as valas e imunda os quintais.
A saparia canta,
no aningal treme de frio a garça
branca...
Começo a tecer barquinhos de papel,
eles navegam na vala amarela,
teço paneiros para colocar embaixo das
goteiras
abertas num universo de águas e temporais.
Conserto o telhado quebrado por uma
estrela
e pela lua cheia que caíram e viraram
cristais.
Levanto da cama quente, vejo o horizonte
que se
estende na palidez amarela, tal qual a
florzinha
singela que dança ao toque da chuva...
Um
brinde aos quintais
Gratidão e ternura a este universo
sagrado. Consagrado na beleza da simplicidade que habita os quintais. Meu
quintal neste momento silencia. As flores “vagabundas” que nascem em qualquer
lugar por obra da natureza florescem e enche da cor amarela os meus olhos. Pequenos
passarinhos passeiam livremente entre as flores e as pedras.
Olho para cima e vejo goiabas que
guardam gotas do sereno da noite. Amoras bem pretinhas enchem minha boca de
desejo e sabor. O ninho do sabiá pendurado no galho do jambeiro faz pulsar no
meu peito o cuidado, o carinho, o amor pelos frutos de minha carne.
Os urubus que voam elegantemente no
espaço pálido pelo tempo das chuvas e as borboletas que sobrevoam as helicônias
me encorajam a dedicar este quintal de palavras aos próprios quintais, às
pedras, às borboletas e a você que também ama o quase invisível, o quase
inaudível e o divino que habita em nós, entre nós e além, bem alem...
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