Eu queria ser como o vento. Ás
vezes ele parece ser pura mansidão e age com delicadeza. Com suavidade nina as folhagens, com candura
movimenta o tempo, com afeto seca o suor do rosto da mulher na sua labuta
cotidiana e ainda espalha estrelas nos meus lençóis rendados. Outras vezes
parece agitado, devasta os jardins, revira os vasos onde floresce as orquídeas
sagradas. Ainda hoje, ele fechou com força a minha janela e espalhou cacos de
cristais sobre os meus versos. Outras vezes se cala. Não sei se ele se esconde
em algum lugar para namorar a filha de Tupã, se dorme em silencio para repousar
das travessuras criadas durante as noites de lua. Seja como for eu sinto a sua
falta, procuro-o na sombra do mucajá, no cais do Araxá, nas calçadas do meu
destino, no meu quintal feito de pedras e de borboletas.
Ah, vento! Cadê você? Quem é
você que todos os dias beija o meu rosto, coça a minha alma, levanta a minha
saia, me descabela e some no horizonte? Quem é capaz de fazer tamanhas doces
loucuras e não querer aparecer? Você poderia ganhar o Nobel da Paz e até ser
queimado num altar como bruxo louco. Poderia ser um moço bombado e até um
menino malvado que quebrara os meus vitrais. Prefiro te imaginar, te guardar
entre os meus cabelos.
Mas, vou desenhar nos meus
olhos um espelho para retratar tua imagem querida, tua barba comprida, teus
olhos de vento no rio, o teu canto e assovio e o teu medo de cantar outra
melodia.
Ontem te amei entre as pedras,
havia uma lua bonita ninando nossas
cabeças, clareando nossos segredos e você movimentava as maresias que faziam
brancas espumas sobre nossos corpos de ventos e poemas...
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