Um sentir

Minha vida é uma busca

de belas belezas,

busco um deserto inundado,

um mar sem agua,

um barco sem piloto,

um piloto com barco.

Busco um céu que nasça

dentro de um rio,

um rio que suba para o céu

numa guirlanda

de verde estrelas.

Busco sinais nas pedras,

deixo nas pedras

um poema sem poesia.

Minha vida é uma busca

apaixonada pelo nada

cheio de infinitas bonitezas.

Lugar sagrado como o pão de cada dia. Cada pedra conta uma história, cada brisa é um carinho, cada flor de samambaia é uma poesia de beleza infinita...
 

Ali, no infinito

Perdi o meu olhar

nas águas de lá, daquele

lado do infinito.

Ficou cravado, nas pedras,

nas aguas, no mistério

daquele portal.

Vi meus ancestrais se banhando,

se amando nas linhas

do horizonte.

Me achei nas samambaias

que dançam

ao som das cachoeiras,

sem certezas, sem medos,

simplesmente

na ousadia da entrega.

Meus olhos se acharam

naquela pequena flor que

por amor vive entre céus,

pedras e borboletas em voo. 

Cachoeira de Santo Antonio, no município de Laranjal do Jari, Amapá. Um lugar para se reconectar  com o sagrado, com os sonhos, com a vida...
 

 

O canto da alma

Minha caminhada

tem sido assim, rios de lágrimas,

cachoeiras de paz,

serenas pedras, doce reflexão,

encantamento diante do infinito,

doçura ante a finidade

de todos os destinos.

Caminho com os obstáculos,

meus passos cansados

repousam na minha fé

Os faróis divinos

iluminam minha estrada.

Sou peregrina de um belo mundo

que convive com

outros mundos não tão bonitos

Minhas mãos estendidas

plantam flores, acolhe os amores

e as sagradas saudades.

É beleza pra mais de metro. É encantamento que transborda, faz a alma cantar. Me faz acreditar que Deus mora, também, nesse rio, rio Jari, municipio de Laranjal, Estado do Amapá.
 

 

O rio

A canoa deslizava,

o céu catava o verde que

balançava no fundo rio.

O sol recolhia os seus raios

que como criança brincavam

nas aguas do rio Jari.

Rio sereno, tão bonito

e bem escondido

no meio da floresta,

entre castanheiras, mungubeiras

e belas samaumas.

Gaia é mistério,

calça os seus chinelos

e caminha sobre as pedras

de lindas cachoeiras.

Estou aprendendo que os ninhos são diferentes, como diferente é o sentirpensar de cada vivente deste lindo e mal cuidado planeta. Como seria maravilhoso se cada fio desta imensa Teia, chamada Vida aprendesse a conviver nas suas contradições...
 

Sentindo

Parei de pensar,

vi o barulho da chuva cair,

o riso do verde  surgir

e vi uma estrela caindo

no meio da multidão.

Tudo medra, tudo canta,

a magia do canto do sabiá

despertou o meu olhar

para infinito ninhos.

Parei de pedir e senti que o mundo

que eu quis está aqui,

diante de mim, esperando

o cuidado meu.

Parei para escutar

e senti saudades... 

 

Colher gera incertezas, plantar é sempre agora. Plantar sem esperar colher, mas outros certamente colherão. Hoje me delicio com a plantação de meus ancestrais e sinto que meus descendentes apreciarão o que hoje planto. portanto, planto, sonhos, poesias, gentilezas, um mundo que respeite todos os outros mundos...

Voos

Tempo de colheita?

Quem disse?

Eu continuo semeando

grãos de liberdade,

continuo costurando os mimos

que a vida me oferece,

continuo bordando em minha alma

as pétalas colhidas nos

 versos dos caminhos.

Assim, enfim,

abro ao vento as colchas costuradas

no meio da poeira da estrada,

corro atrás dos retalhos

que o vento leva pra longe de mim

e ainda amo bordar no chão

da terra um lençol

de pássaros em voo... 

.

 Numa tarde de arco íris, as margens do rio Amazonas, no porto de meu irmão que é um apreciador da natureza. Toda  essa beleza invade minha alma e me enche de desejo de compartilha-la com você...

 

Tintas e linhas

Que eu saiba conversar

com meus medos,

sorrir quando a dor chegar,

dançar com os meus desejos,

sonhar mesmo quando

se apagarem os faróis.

Que eu sinta a rebeldia andar

por dentro de mim,

que a incerteza das rosas nascerem

em jardins me inspire

a segurar em meu olhar

todas as primaveras.

Que eu saiba esperar a tinta

de meu desenho secar,

a agulha costurar a colcha com

todos os meus inteiros retalhos.

Que saiba espiritualizar quando

a angustia me alcançar,

olhar o horizonte mesmo que

meus óculos embaçados estejam.


Quando a vida pede um pouco de calma, eu olho para as crianças. Quando o urbano cansa eu lembro do meu mundo interior, onde eu posso escutar todas as vozes de um silêncio sagrado... Esse paraíso é no lago do Ajuruxi, município de Mazagão-Ap.

Sem pressa

Parei para escutar...

O silencio falou,

o pássaro do meu passado cantou,

uma flor nasceu,

outro pássaro saiu do peito meu

e o tesouro de cristal

se espalhou na terra.

Eu vi uma folha cair,

vi uma criança sorrir

e aquele blusão surrado

se vestiu de agua e saiu soprando

esperança ao vento.

Parei e vi uma nuvem surgir

lhe plantando na minha canção

e no meu coração nasceu

uma imensa saudade...