Cor vermelha
Por que no fim das tardes
o vermelho se derrama dentro
de meus olhos?
Por que essa cor segue os carrosséis
e se mistura com a solidão
da estrela distante?
O vermelho que ontem vi se derramando
na tarde, hoje, molha o lenço verde
de Pachamama em festa.
Tudo nasce, tudo floresce...
As sementes trazidas pelos pássaros
cresceram e as flores tombam
sobre a rua deserta.
Mas uma libélula passa
e a pontinha de seus dedos toca cada pétala
e a Beija Flor voa saboreando
a seiva transbordante.
Uma folha vermelha se desprende...

Vejo Deus, também aqui... principalmente nas orquídeas que eu planto  na janela de minha alma... Gratidão a criação Divina!

 Templo sagrado
Vi Deus andando entre os coqueirais
Vi que seus pés deixavam marcas
enfeitadas de maresia,
de conchas e rebelde harmonia.
Vi Deus, seus cabelos tinham a cor
da aurora e cheiro de crepúsculo
Suas mãos tocavam as gaivotas em voo.
Vi Deus sentado num banco
de um velho trapiche,
sentindo um devaneio,
o que fazem os filhos seus?
Vi Deus mergulhando no mar,
lavando sua dor,
pescando nos rios, comendo peixe
e farinha com os ribeirinhos
em palhoças e tapiris.
Vi Deus no entardecer,
transpassado da cor violeta,
fazendo festa com as borboletas
que se alegram com o verão,
com todas as estações,
com a constelação de estrelas
que moram em suas asas.
Vi Deus num túnel verde...
Numa mão trazia um lampião,
na outra mão um balde com água
para apagar nas queimadas
que fazem chorar o seu coração.
Vi Deus num caminho de flores,
cercado dos amores que ligam terra e céu
Vi Deus entre as vitorias regias,
no sol que se ponha
nos fins de tardes.
Vejo Deus entre o seu povo,
aparando raios, abençoando  os vento,
dizendo que o advento está entre nós,
dentro de nós...
Sinto Deus em mim, em você,
em quem fala, em quem se cala,
em quem faz um mundo novo nascer.
Sinto Deus na dor do irmão e da irmã,
na alegria de quem faz do dia a dia
a sua epifania, a sua ressurreição.
Vejo Deus no meu quintal...

Muitas pessoas falam da beleza de minha casa. Mas lhes digo, não é da construção que elas falam. A beleza esta nas flores que se espalham por todo o quintal.  Eu fico feliz! Que as flores de minha casa possam encher de cor o caminhar das pessoas que na rua passam...

Pétalas na calçada
Entre minha voz e a canção
vejo um beija flor a procura da seiva,
a procura de seu amor que logo
aparece nas letras dos madrigais.
A canção silenciou nos lábios da aprendiz,
só o olhar se perdeu
entre balanços e cristais,
entre pedras, ninhos e pérolas.
O horizonte distante,
trouxe pra perto a solidão do tempo
O ipê tombado de flores,
escreve seus amores, fala de suas saudades
e a calçada brinca
com as pétalas nela espalhadas.

 Meu quintal é um jardim! Planto flores porque amo estar perto delas, conversar, escutar, silenciar com elas. Que elas encham os olhos de quem passa na rua. Que elas encham o mundo de beleza, gentileza e amor.

Casa vazia
No silencio da casa vazia,
recorro a poesia...
Sem inspiração e razão um pouco de lado,
colho os pingos d’água
que descem pelo telhado.
Onde está você meu amor?
Onde estão os amores da minha vida?
Os botões desabrocham,
a solidão é triste, triste?
Não. É cheia de coração
que como bolinha de sabão,
voa ao vento.
O ventre fecundo,
agora está vazio de saudades.
O silêncio da casa vazia
está cheio de rosas!
Flores orvalhadas que esperam a tua chegada...

Meus netos embelezam o meu cotidiano. Enchem de luz minha casa e de ternura o meu coração. Os meninos que poetizei vivem em condições muito diferente desses aqui. Mas são minhas crianças, também.

Meninos
Vi fúria no rosto do menino
Vi no rosto do menino, doçura
O medo abatia, a rebeldia insistia,
agonia falava, a gentileza gemia,
entre um passo e um recuo.
Leve dureza...
Gotas d’agua escorria
entre suor e lagrimas.
Palavras franzidas não davam conta
de costurar as relações puídas.
Crianças, travessuras, doçuras,
fazem do meu dia a dia,
uma eterna reinvenção.

Este flamboyant cresceu com meus filhos, mas a ventania da noite o levou para o jardim ondem habita todas as sementes...

Sementes e saudades
Como é triste te ver ao chão!
Sem verão e primavera
Flores singelas e quase amarelas
se espalham na poesia do asfalto.
Em qual sepulcro morre a ternura?
Em qual escombro nasce outro jardim?
Morte e vida se encontram,
e celebram a floração.
Chuva e ventania, também...
A agonia da madrugada,
eu bem sabia, algo estranho
acontecia entre o raiar do dia
e o silenciar do pequenino sabiá,
sem ninho.
Ainda te retirei do chão,
te coloquei em minhas mãos,
mas já eras sementes
nos jardins dos flamboyants...