Para um amigo que partiu
Hoje eu recolhi minha rede da varanda em
sua homenagem, silenciei do jeitinho que você gostava. Pensei no sabor do café
que apreciávamos em mesas diferentes. Entre o meu olhar e o seu olhar havia uma
esbelta montanha e um imenso rio. Na montanha abrimos uma janelinha, no rio
construímos um trapiche. Quanta partilha de ideias atravessou essa janela e ancorou
na escada do meu porto. Quanto afeto e amizade...
Nos dias em que o frio se pendurava na
sua montanha, líamos o jornal na sua varanda, você sentado na cadeira de
balanço e eu, nas asas de uma borboleta. Nos dias quentes em que o rio desfilava
seus banzeiros eu escrevia a sombras das mangueiras e você distribuía rosas nos
casarões ambrosianos. Na primavera os nossos olhos saiam pelas estradas,
admirando os ipês ou você escrevia sobre ruas e ramalhetes.
Já faz tempo que uma rede está sempre
vazia na varanda da confraria da boa esperança. Eu não sei aonde deixastes a
vara de cutucar a lua e nem sei onde amarraste o burrinho que te traria para
aprender a pescar maresias nas margens do grande rio. Tua casinha perto da serra,
agora encerra o capitulo do teu ultimo livro...
Hoje, por sugestão da Joana todas as
redes foram recolhidas da varanda em sua homenagem...
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