Com amor
Com a mão esquerda te dou uma rosa,
com a direita, um sonho
Colho dos teus olhos um botão bonito
do teu mais doce sorriso, só pra ti ofertar.
Escrevo-te um poema, tu arranjas a melodia da canção
 Na palma dos teus pés planto uma Dália amarela,
para que as sementes dela se espalhem
e floresçam os teus caminhos de pura emoção.
Com a mão esquerda toco o teu coração,
com a direita suavizo as tuas pulsações
e assim seguimos de mãos dadas,
buscando o infinito da estrada, na finitude da tarde
que já cochila num doce afago.
Para um amigo que partiu
Hoje eu recolhi minha rede da varanda em sua homenagem, silenciei do jeitinho que você gostava. Pensei no sabor do café que apreciávamos em mesas diferentes. Entre o meu olhar e o seu olhar havia uma esbelta montanha e um imenso rio. Na montanha abrimos uma janelinha, no rio construímos um trapiche. Quanta partilha de ideias atravessou essa janela e ancorou na escada do meu porto. Quanto afeto e amizade...
Nos dias em que o frio se pendurava na sua montanha, líamos o jornal na sua varanda, você sentado na cadeira de balanço e eu, nas asas de uma borboleta. Nos dias quentes em que o rio desfilava seus banzeiros eu escrevia a sombras das mangueiras e você distribuía rosas nos casarões ambrosianos. Na primavera os nossos olhos saiam pelas estradas, admirando os ipês ou você escrevia sobre ruas e ramalhetes.
Já faz tempo que uma rede está sempre vazia na varanda da confraria da boa esperança. Eu não sei aonde deixastes a vara de cutucar a lua e nem sei onde amarraste o burrinho que te traria para aprender a pescar maresias nas margens do grande rio. Tua casinha perto da serra, agora encerra o capitulo do teu ultimo livro...
Hoje, por sugestão da Joana todas as redes foram recolhidas da varanda em sua homenagem... 

As cores do cotidiano
A toalha encardida balança na janela
de parapeito também encardido
Pálido cenário...
Prédios carcomidos pelo tempo,
borrados pela cor cinza
Quintais sombrios com cores que eu não gosto de ver,
mesmo sem gostar fico a olhar
até os olhos cansarem e a retina entristecer.
A toalha encardida foi retirada da janela,
agora deve está enxugando um corpo nu
e no corpo de quem se enxuga,
a toalha parece singela, de cor amarela, será?
Por uma fresta pequenininha vejo um vulto se mover
Será que a toalha é mesmo encardida?
Ou é o meu olhar que já não visualiza as cores infinitas,
as cores cotidianas do cotidiano da vida?

Baú de pérolas
Guardo a tarde no meu coração,
deixo penetrar nos meus olhos
a tristeza que parece impregnar o silêncio
que vai caindo sobre penumbras e rosas.
Daqui a pouco haverá a dança das estrelas,
os salões de festa se encherão de alegria,
o mundo abrirá janelas pra teimosia
e a poesia fará florir o perdão,
a compaixão e a saudade.
Guardo o entardecer na alma,
como o sabiá guarda o seu ninho
em noites de chuva e tempestade.

Doce procura

Onde está àquela canção

que outro dia o teu violão tocava bem longe daqui?

Onde está o assoviar dos ventos que aparamos
naquela cesta toda cheia de ternurança?
Onde está a sombra do passado
que outro dia vi você guardando num envelope escrito
com letras de girassóis?
Onde estão todos aqueles sonhos
que bordaram nossos passos quando semeamos ao vento
todas as nossas esperanças?
Em qual pássaro ficou guardado o mais lindo voo
que um dia eu voei contigo?
Em qual jardim plantamos as sementes do novo mundo
que tanto quisemos compartilhar?
Você lembra em qual cais marcamos nosso primeiro encontro?
E por que nos perdemos?
Em qual mar naufragou o navio de nossas utopias?
Em qual lua vamos nos reencontrar?
Reencontrar-nos-emos na mesma estação...
Talvez, no mesmo porto,
mesmo que a tarde não seja chuvosa,
seja simplesmente, uma tarde...
Você conhece a bacabeira?
Uma elegante Palmeira...
Outros sonhos e mesmices
Fiz um barco e ganhei de presente o mar

Em mutirão costurei uma vela,
na solidão do meu eu, pintei nela, aquarelas
para mais a viagem embelezar.
Desafiei mesmices,
enamorei-me do vento,
remexi o tempo e corri para desamarrar o cais.
Fiz um barco e me perdi no mar,
fiquei a deriva e me pus a cantar,
a sereia amiga me ajudou a navegar,
aprumou a quilha e trouxe a brisa para não deixar
o sol me queimar
Fiz um barco e nele velejei os meus sonhos...

Inspiração
Inspiração é quando os olhos deparam
com uma folha a balançar,
com uma pétala a beijar o cheiro do beija flor,
com a flor a se derreter de amor
pelo jardim que fecundou a gotinha de orvalho.
Inspiração é quando o olhar se perde
na vastidão do horizonte azul, matizado,
molhado de chuva, cavalgado de amor.
Inspiração é quando a madrugada me acorda,
invade minha imaginação,
transborda de ideias a minha mente
e depois foge me deixando o vazio
do esquecimento...


Meus devaneios
Os traços do meu rosto pertencem ao tempo,
mas o meu olhar é da poesia
As linhas de minhas mãos seguem destinos,
mas o calor que delas emana
diz do amor que pulsa no meu peito.
Meus pés andam pelo infinito dos caminhos,
mas a leveza do meu do meu andar
é para não machucar os calos do coração