Os vitrais que choram
E choveu a noite inteira...
 O telhado acordou resfriado, 
os vidros da janela estão embaçados,
 as nuvens estão orvalhadas e o meu amor feito
 de nada, quase vira uma quimera encarnada 
no tempo e no espaço.
 E choveu a noite inteira...
 O sono acordou com o cantar dos sapos,
o bem ti vi deixou cair o seu ninho cheio de ovos,
 no colo  da rosa menina que, se adiantou
e salvou os pequenos passarinhos,
antes que fossem devorados pelo jardim de carne.
 E choveu a noite inteira...
 As goteiras pararam de molhar o meu quarto,
 o espelho apagou as imagens deixadas pela saudade
 e os lençóis de flor secaram
os meus olhos molhados pela madrugada.
 Ainda chove, mas apenas os vitrais agora choram...


Histórias de amor
Sem o horizonte, os montes choram,
as pedras quebram-se, as história emudecem,
os livros envelhecem e os amores de cansados morrem.
Dentro do meu livro chora a tua fotografia,
escondi para que o cupim não a corroesse
 e nem escondesse os punhados de outrora. 
Horizontes ofuscados, pedras em pedaços,
livros feitos de nada, fotografia amarelada,
eis o que ficou de uma história de amor
que atravessou o tempo.



No quintal tem ninhos de passarinhos, tem anjos deitados na terra, tem um velho poço que serve de túnel entre o tempo e a eternidade. Tem pedras carinhosas que jamais machucam meus pés descalços. Tem jabuticaba, tem goiaba, tem mamão, tem limão e muitos corações compondo canções para mentes abertas que sentem a chegada de uma Nova Era. A nuvem vermelha traz a primavera e acende lampiões de Amor nas janelas da Vida... No meu peito explode a imaginação, o perdão e uma nova aurora.


Saudosas lembranças
O dia amanhece cantando
Canta os periquitos, canta os sabiás,
canta a janela deste solar encantado.
As cortinas se abrem para a festa entrar,
a sala que já viu tanta gente, agora silencia
para o silencio não chorar.
Na mesa desarrumada, apenas as xícaras
deixadas com resto de café, lembram de um outrora
com pensamentos viajantes, ideias encantantes
e um jeito bonito de ser feliz.
Mas, o verde se balança, o vento dança
e as cortinas ainda abertas, se fazem frestas para outros amanhãs
A cantoria quebra o meu doce silencio.



Jardim sem flor
A sala esta fria...
As cadeiras vazias e as mesas sem livros
Apenas as cortinas encardidas e franzidas pelo tempo
escrevem um poema sobre solidão e silencio
Pela janela envidraçada vejo a palidez do dia
que me oferece uma branca açucena.
O ronco de um carro, ao longe desperta a minha sonolência
Cadê vocês? Onde estão tantas vozes barulhentas?
Tantos rostos sorridentes?
Tanto equilíbrio voando ao vento?
Espero a euforia passar,
o inverno invernar
e os jardineiros voltarem aos seus jardins...