Meu abraço carinhoso para você que visita este espaço. Que você tenha um final de semana cheinho de ternura e de alegrias. Beijos, flores e gentileza!



Gratuidades
Costumo caminhar quase todas as manhãs numa praça-lagoa. Adoro ver o rosto de Deus nos esbeltos buritizeiros, no frondoso ipê amarelo, nos finos açaizeiros, mas também, no caminho aberto pelas saúvas em meio a vegetação rasteira, na pequenina flor brotada em frágeis cipós que se espalham por todos os lugares, desafiando a roçadura de quem da praça cuida. São tantas as imagens sagradas, visíveis e invisíveis que me fazem escolher este lugar como a minha casa-templo de orações, de meditação e de encontro com a espiritualidade.
Neste caminhar silencioso, debulho-me em preces de gratidão a sublime Vida. Ao Grande Espírito criador de fortes e delicadas belezas, de coisas grandes e pequenas, de peixinhos que nadam no fundo do lago e de pássaros que fazem ninhos nas copas do flamboyant...
Presto atenção aos mínimos detalhes. Conheço cada flor desta praça, suas cores, seus aromas, suas delicadezas. Olho todas com carinho e admiração. Aprecio o voo do Socó, o mergulho do pássaro mergulhão, as folhas e flores que caem na água e são levadas pelas marolas da lagoa.
Mas na minha caminhada de hoje encontrei um matinho que nascera em uma rachadura, pendurado entre a calçada e a lagoa com apenas um fiozinho de terra-musgo. Fiquei um bom tempo contemplando essa paisagem, escutando as queixas da rachadura, a conversa entre o matinho e o sol, ouvindo as pequenas folhas acenarem para os galhos da alvineira que tombou sobre as águas e ainda admirei a ousadia desta plantinha por fazer do medo um desafio, medo de escorregar sobre as pedras cheias de lodo e mistérios.
A Mãe Natureza me põe diante de simples e complexas lições, a de hoje foi: se o matinho vive num fiozinho de terra e mesmo assim fica a dançar com o vento, também eu posso viver com um mínimo de coisas. As necessidades da Vida são poucas, muitos são os desejos humanos, são os desejos que nos transformam em escravos. Eu já não quero correr. Compartilho da poesia do Almir Sater e Renato Teixeira, “Ando devagar porque já tive pressa e levo este sorriso porque já chorei demais...” Por que querer mais riquezas, se o teto de minha casa é coberto com estrelas, se o meu quintal é o mundo, se minha janela é o horizonte, se nos meus olhos mora a lua e abaixo dos pés tenho os corais que medram entre as pedras?...

Outros olhares
Neste novo amanhecer...
Quero pintar o céu de lilás,
descer uma estrela para dormir com o farol
que vejo ao longe.
Quero pintar jardins nos muros,
ficar espreitando como a rosa branca conversa
com a preta orquídea,
como o grande lírio olha para a florzinha do campo,
como as flores reais convivem
com os jardins de minha imaginação.
Quero me pintar
nos caminhos do mundo.

Detalhes
Dentro de mim mora um sonho
Um arco íris
Uma ilha
Um deserto
Um lugar chamado esperança.
No meu coração...
Mora o sol
A chuva
O amor
e as buscas incessantes de belos horizontes.
Mas, na minha alma peregrina
mora a solidão,
o silêncio,
um orquidário
e caminhos nascentes de girassóis.