Infinito meu
água molhava o convés do barco,
como o orvalho molha a madrugada 
dos tristes invernos.
Tanta maresia, que não coube no rio
e subiu para tornar o horizonte mais bonito
no seu infinito, no infinito meu.
A ventania paralisou o meu pensar,
o pulsar de um coração
que segue os devaneios de um inteiro pedaço de mar.
Esse dia é como uma criança agitada,
pula, corre, mexe, remexe
e molha de inverno esta alma
que busca as borboletas para pintar-se no espaço
bordado de caramanchão de flores...

Delicadamente
Vem, traz os pincéis para criarmos artes 
nas auroras passivas
Traz tinta para darmos cor aos 
horizontes cinza e pálidos
Traz a caneta para rubricarmos no tempo uma rosa lilás
Traz a ternura para marcarmos no asfalto
um amor bem devagar
Traz um sonho
para pendurarmos no galho tombado do jatobá.
Que os mágicos pincéis, as tintas 
respingadas de estrelas,
a caneta molhada de mar, a ternura franzida de flores
 e o sonho semeado nas estradas, te tragam pra mim,
bem assim, delicadamente...

Todas as rosas
Um gemido rasga a pétala da rosa vermelha,
frágil, delicado, quase um sussurro
Uma lágrima rola da essência da flor amarela,
tão singela, tão viva que nem parece feita de plástico.
Rosas vermelhas e amarelas
não chorem na janela vendo o jardim em flor
Saiam desse vaso vazio,
atravessem a varanda e virem 
uma Rosa, uma Margarida,
uma Maria bonita que não se paralisa nos vendavais
Só não deixem que lhes sufoque no peito 
o grito dos finos cristais.
O aroma das rosas atiça nos passarinhos,
o desejo de voar, a ternura de achar que, sonhar
                          é um mel que embala a vida.
Oca dos curumins
Cheiro gostoso é o aroma da terra!
Terra preta, grávida de vidas,
franzida de prantos e talhada de amor.
Terra que gera as flores, que gera os meus amores,
Gera a amora de cor púrpura
e as auroras encravadas no barro.
Terra casa, terra água, planeta azul,
terra que nos canteiros
faz nascerem viveiros de belas liberdades.
Terra jardim, oca dos curumins,
choupana de marfim, cabana de parir sonhos.
Terra preta, vermelha, lilás...
Gritas e silencias, choras e cantas, e mesmo assim,
amas os filhos e filhas que abusam de ti.
Terra... terra... terra...