Eu queria ser como o vento. Ás vezes ele parece ser pura mansidão e age com delicadeza.  Com suavidade nina as folhagens, com candura movimenta o tempo, com afeto seca o suor do rosto da mulher na sua labuta cotidiana e ainda espalha estrelas nos meus lençóis rendados. Outras vezes parece agitado, devasta os jardins, revira os vasos onde floresce as orquídeas sagradas. Ainda hoje, ele fechou com força a minha janela e espalhou cacos de cristais sobre os meus versos. Outras vezes se cala. Não sei se ele se esconde em algum lugar para namorar a filha de Tupã, se dorme em silencio para repousar das travessuras criadas durante as noites de lua. Seja como for eu sinto a sua falta, procuro-o na sombra do mucajá, no cais do Araxá, nas calçadas do meu destino, no meu quintal feito de pedras e de borboletas.
Ah, vento! Cadê você? Quem é você que todos os dias beija o meu rosto, coça a minha alma, levanta a minha saia, me descabela e some no horizonte? Quem é capaz de fazer tamanhas doces loucuras e não querer aparecer? Você poderia ganhar o Nobel da Paz e até ser queimado num altar como bruxo louco. Poderia ser um moço bombado e até um menino malvado que quebrara os meus vitrais. Prefiro te imaginar, te guardar entre os meus cabelos.
Mas, vou desenhar nos meus olhos um espelho para retratar tua imagem querida, tua barba comprida, teus olhos de vento no rio, o teu canto e assovio e o teu medo de cantar outra melodia.

Ontem te amei entre as pedras, havia uma lua bonita ninando  nossas cabeças, clareando nossos segredos e você movimentava as maresias que faziam brancas espumas sobre nossos corpos de ventos e poemas...


Adereços de um sonho
Uma mala cheinha de saudades
foi deixada na beira da estrada
Saudades do tempo, saudades do vento,
saudades dos campos floridos
onde armamos a nossa barraca.
Uma mala abriu-se no meio da estrada,
dela caiu velhos retalhos, retratos amarelados,
poemas amassados, sonhos puídos,
desejos contidos, quimeras rasgadas ao meio.
 Uma mala foi achada perto de uma estrada
Havia poesia, linhas e rosas, agulhas e ousadia,
 mãos ásperas e delicadas bordando
no espaço fronteiras de amor.

Fantasiar
Olho nos seus olhos...
Vejo toda a beleza do mundo,
vejo suas mãos fotografar as estrelas,
desenhar espelhos para admirar a lua.
Vejo sua alma andar pela praia,
perambular ao doce encantar da tarde,
erguer castelos de sonhos no soprar do vento.
Vejo seus olhos cantar os mistérios,
pintar o mar de amor
e guardar no baú dos sonhos
o segredo que pra lua confessou.
Vejo nos seus pés o brincar da areia,
o revirar das conchas,
o levitar sobre as linhas do horizonte.

Um profundo olhar
Que olhar é esse?
Tão profundo que atravessa o horizonte,
que invade minha alma,
que me acalma, que me desarruma,
que aflora em mim sentimentos de paz.
Que olhar mais bonito, que parece sofrido,
mais é lindo de ver
Que olhar carinhoso, até mesmo manhoso
que afaga o meu respirar.
É bonito de ver, é gostoso sentir,
é impossível não amar, é paixão tão intensa,
que gruda no peito e me faz delirar.
Que olhar...

Fantasiar
Olho nos seus olhos...
Vejo todas as bordas do mundo,
vejo suas mãos fotografar as estrelas,
desenhar espelhos para admirar a lua.
Vejo sua alma andar pela praia,
perambular ao doce encantar da tarde,
erguer castelos de sonhos ao som profano do vento.
Vejo seus olhos cantar os mistérios,
pintar o mar de amor
e guardar no baú dos sonhos
o segredo que pra lua confessou.
Vejo nos seus pés o brincar da areia,
o revirar das conchas,
o levitar sobre as linhas do horizonte.

Travessuras do silêncio
O silencio sai pelos meus poros,
cega de amor os meus olhos,
sombreia minha alma de saudades
Despede-se das tardes e das pedras
e derrama púrpuras telas e pincéis
sobre os amantes do entardecer.
O silencio abre caminhos entre o céu e o por do sol.
anda por dentro de mim, gentilmente,
grita como a lua cheia,
sussurra como crianças na praça
e faz travessuras como um beija flor
ao redor da rosa encantada.
O silencio é a pérola da minha pele...

Varais
Olha como estão os varais!
Em cada pingo de chuva
tem pendurado um poema com letras molhadas,
 pálidos versos,
rimas que dormem em tetos cinza.
O travesso Bem Te Vi, não viu o que eu vi
Pousou no varal, cantou pra mim,
mas também espalhou os poemas pelo chão de cristais.
O vento ajudou, balançou o tempo,
deixou o espaço nublado,
desceu as nuvens escuras
e as pendurou em minha janela.
O pássaro amarelo voou
e levou consigo o único poema
que brotou nos varais dos meus olhos. 

Estrela molhada
Chão de estrelas em terra molhada
Semente brotada em canteiro de carne
Pétalas voando ao vento.
Estrela molhada na imensidão da esperança
Chão de estrelas, amores e bonança,
eternidade no bater das asas de uma borboleta.
Voar de borboletas, canção, cachoeiras,
candura de namorados.
Namorar, enamorar-se no amor bonito, infinito,
que  enlaça conchas e pérolas
Estrela molhada, mansidão partilhada,
tempo minado de ternura.

Pedra
Um mergulho...
Docemente de bubuia com a vida que lhe contorna,
que extrapola a sua nudez vestida de água,
bordada com espumas que lavam
 seus cabelos soltos que cheira à correnteza.
Belezas borbulhantes, águas vazantes,
encantantes visões onde palavras
se fazem vãs caricaturas.
Pobres de alguns de nós humanos...
Cegos, ateamos fogo, queimamos a ternura...
Encharcamos o infinito de fumaça
Surdos para o inaudível, quebramos o silêncio,
silenciamos o canto da cachoeira,
dos pássaros, das folhagens,
do vento que toca as pedras, do cosmo...

O que vi no voo da gaivota
E eu me perdi...
 Perdi-me no olhar do infinito azul
Quanto mais as ondas se aproximavam
e se quebrava no encontro com as pedras,
mais profunda era a alegria
de quem aprecia as belezas da vida.
E o mar sorria no meu sorriso,
o meu canto assoviava no seu cantar
O voo da gaivota pousou nos meus sonhos
e um tamanho amor me tomou
e eu me joguei nos braços do mar.

      Olhos da paz
Olho para o céu...
Vejo o sol desenhando você,
pintando seu corpo com urucum,
colocando andorinhas em voo dentro de sua alma,
colorindo seus sonhos, guardando seus segredos,
revelando seus encantos e belezas.
Vejo os anjos trançando seus cabelos,
secando o suor de seu rosto,
curando as feridas que o facão
de quebrar coco fez em suas mãos.
Vejo as estrelas caírem nos lagos
e ficarem de bubuia sobre as Vitorias Regias
Vejo o Pai Nosso que está no céu andando na terra,
cuidando dos quintais, brincando com as borboletas
e nos chamando para um mundo de paz.
Eu vejo...

A poesia do silêncio
Agora que o barulho cessou,
que o pássaro voltou para o seu ninho,
que o fogo apagou devolvendo a brandura
para os olhos do tempo, eu vou viajar no rio do amor,
vou remar com delicadeza, bem devagar
para não assustar os filhotes da linda sereia
que mora nas pedras dos meus olhos.
Na viagem da vida, o barco me espera na margem,
ancorado numa árvore onde mora uma orquídea
Agora que o barulho cessou,
a poesia se encantou no balançar do barco que espera
por um olhar de quimera,
por um canto de paz...




Vi o todo numa unica imagem!
Vi o dia amanhecer, vi a noite adormecer
Vi a estrela clarear em meio a nuvem escura
Vi o sol afundar e recolher o lodo e a lama do fundo do rio.
Vi a gaivota sonhar, a lua namorar o ronco do motor
Eu vi a floresta falar, o silêncio consagrar o seu próprio silêncio.
Eu vi Deus remando num pequeno barco...


Olá, gente linda!
Estou retornando das férias. Nesse tempo viajei pelos rios da Amazônia e colhi lindas pérolas para compartilhar com você. Espero que tais imagens encha os seus olhos de amor e de inteireza para com a natureza.
Com o carinho de sempre, Deusa...