Onde estão os nossos olhos
Bebo o dia com ternura, com ousadia-rebeldia de quem escolhe a alegria como bandeira de vida. Na imprecisão da vida é necessário fazer escolhas. Ao longo do tempo estou aprendendo a escolher o meu querer, meus caminhos por onde sonhos e destino caminham e hão de caminhar. Nesta peregrinação terrena e cósmica aprimoro meus olhos, eles são como faróis...
Tenho olhos para caminhar pelo mundo e olhos para encantar a alma. Não posso fugir do meu caminho humano. Ando, me entranho na multidão e convivo com o medo, com a dor, com a estranheza, com a euforia, com outras alegrias... Mas, também, tenho olhos para o invisível, para a fantasia, para a poesia, para a transformação... Esses olham para os altos muros e ver o florescer da vida entre os tijolos, ver no muro cor de cinza uma galeria de arte, com rabiscos de crianças, com marcas da infância, com poemas de amor. Escuta, também, a voz da vida que pulsa do outro lado... Nas estradas do mundo eu ando sempre com um balde com tintas, pincéis e com as vozes do meu silencio interior.
Meu olhar ao mesmo tempo em que sustenta o meu estar na terra, que me lança no espaço-tempo como aprendiz da vida, também, me alimenta, embeleza a minha essência, perfuma o meu respirar, energiza a minha esperança e me transforma em jardineira do mundo e da poesia.

Creio que muito dos nossos sofrimentos chegam a nós pelo olhar. Neste mundo da modernidade acelerada, muita das nossas raízes, parece que estão sendo arrancadas sem que percebamos. Esta perda de nossa autonomia amorosamente humana está nos arrastando para uma coisificação horrenda. Eu estou no meio desse vendaval, mas, não quero naufragar. Por isso é que em meio aos banzeiros do mundo me agarro nos galhos secos que estão de bubuia, pois, neles pousa os pássaros, encosta os mururés, faz festa a revoada de borboletas...
Olá, bom dia! Paz e luz!
Hoje eu guardei uma gota de orvalho para molhar os seus pés calejados
Pedi a brisa que suavize o suor do seu cansaço
Eu te desejo um dia abençoado...
Descendo pro mar
E o caminho dava pro mar...
De um lado, montanhas de areia,
olhos de sereia surfando ao luar
Do outro, sepulcro incrustado nas pedras
e entre uma pedra e outra nascia um velho poeta.
E o caminho dava pro mar...
De um lado havia parreiras,
do outro, descendo a ladeira, flores caiam
em cachos para saudar a brisa e os vendavais.
E o caminho dava pro mar...
O mar subia e bebia do melhor vinho
em taças bordadas de flores,
taças singelas, feitas de pedras e de cristais.
E o caminho ainda me leva pro mar...
Sem medo
Não tenhas medo de viver,
Sempre que o temor te abater
Olha para o alto, o intenso espaço te abraça
e te cobre de luz.
Não te sintas sozinho, os caminhos são habitados,
tem passarinhos, tem mar no céu,
tem céu tecido de algodão.
Olha as flores silvestres espalhadas na beira da estrada,
 orquídeas nas árvores mais altas
Oasis nos ventos...
 E o tempo, este, aplaude a tua passagem
        não tenhas medo...
Hoje, 9 de julho...
Minha gratidão ao Espírito Criador da Vida, pelo milagre da minha existência. Minha gratidão ao meu pai e a minha mãe pelo cuidado que tiveram comigo, pela educação que me possibilitaram. Minha gratidão ao tempo, ao vento, aos amigos de perto e de longe, minha gratidão a poesia que hoje cuida de mim... É meu aniversário... 
Encontro
Vamos lá...?
Eu levo o meu restinho de infância
Você trás um carrinho feito de sonhos
Eu levo o por do sol que outro dia achei caído 
entre as pedras
Você trás aquele sorriso lindo, que bem sei trás 
um feitiço, um poema, um pranto contido.
Vamos lá...?
Eu levo o cheiro da rosa que guardei num velho baú
Você trás um punhado de terra, um soneto e uma quimera,
e assim me farás feliz.
Eu levo o arco íris que o banzeiro afundou
Você trás um barranco cheio de gravetos
onde pousam as borboletas amarelas,
vermelhas, brancas e singelas
que um dia prometestes pra mim.
Vamos lá...?
Olha as gaivotas...
Elas se banham no arco Iris,
pescam na concha amarela do belo rio,
pousam nas paisagens distante,
seguem os barcos e navios,
se misturam com as estrelas brilhantes.
Olha as gaivotas...
Elas moram nos meus olhos,
elas voam nos meus sonhos,
cantam na minha voz,
dançam nos meus movimentos,
me alimentam com poesia e ainda trazem
pra mim um raminho de saudades. 

Paisagem do meu quarto
Borboletas voam entre os girassóis,
brincam entre as flores,
pousam no chão,
remexem a terra,
fazem festa nas manhãs de sol.
Borboletas e girassóis,
jamais estão sozinhos,
fazem-me carinho
e cuidam do meu olhar.
Borboletas e girassóis fazem nascer
belas paisagens,
telas harmônicas, pincéis dourados,
molduras mágicas do velho tempo.
Borboletas e girassóis...
Aqui na cidade banhada pelo rio Amazonas, a tarde está linda, tão bela que me faz sentir um pouco de tristeza...
Quero que a ternura deste entardecer inunde o seu coração de paz e de confiança na Vida.
Carinhos...

Leveza
A marca de seus passos eu guardo na minha sacola
Outrora eu carregava réguas,
fita métrica, talão de cheque
Hoje, minha sacola está leve, apenas,
 estão nela, um punhado de quimera,
uma fotografia amarela e poemas rabiscados
e amassados pelo tempo.
Na minha sacola fotografei também a lua,
a mesma lua que no outono passado desenhei
nos seus olhos, bordei nos seus cabelos
 e pincelei nos seus sonhos.
O barulhar de seus passos
ainda escuto ao longe.
Para você... Com todo o meu amor!
Tenha um sereno adormecer...

Pássaro azul
Coração transbordante...
Angustias constante..,
Alegrias esvoaçantes...
Saudades... Saudades... Saudades...
Voa meu pássaro azul,
sobrevoa rios, montanhas, vales, infinitos horizontes.
Em algum lugar acharás o teu ninho,
em todo lugar há ninhos,
basta olhar também com o coração.
Voa... Não esquece a andorinha
que ficou ao teu lado nos invernos passados,
nos outonos tomados de silêncios.
Leva nas asas o pequeno sabiá,
ele agora vai cantar em outra mangueira,
mas, mesmo de longe,
hei de acompanhar todo o seu cantar
e o seu despertar para a beleza da vida.
Voa...



A poesia do rio
Um balaio de palavras pra lá de belo
Bom de ver numa tarde de chuva,
sol e vento rebelde
Vi ainda uma andorinha que tecia ninhos 
na beira do rio.
Macapá sorria...
No Forte de São José
as flores nasciam entre as velhas pedras
Fascínio e magia das maresias do rio Amazonas
Ondas sem leme se quebravam na pedra,
medo e ousadia encharcavam a tarde.
Pedra mulher adornada pelo por do sol,
uma praça onde as borboletas brincavam de pousar
e voar entre o ir e vir das maresias em festa.
Duas borboletas de um branco quase verde
pararam diante de mim,
voaram e sumiram dentro dos meus olhos.

Que o mês de julho lhe traga muitas alegrias, derrame amor nos seus olhos para que possas ver as belezas dos caminhos. Que pendure flores na sua janela, que encha os seus cabelos de doces madrugadas.
Eu te ofereço uma rosa vermelha. Ela está orvalhada do meu carinho!
Fios que tecem
Vejo o mar agitado...
Suas águas já não são azuis
A sinfonia das ondas se entorna nas pedras,
magia que se escorrega por velhos dorsos
Réstias de sonhos, brinde do tempo,
vestes nuas da natureza arregaça a beleza
que vejo nos segredos dos seus olhos.
Brancas espumas que dançam com as pedras,
águas amarelas e vermelhas tinge a esteira
que estendi no chão para não machucar,
nem os seus pés e nem os seus sonhos.
              Mar de pedras, espumas de sonhos,                        fios de plenitude que tece terra e céu.