Nas uma flor em nossas mãos
Tenho um regador verde cor da esperança,
cor das folhas, dos frutos, cor das flores 
do meu vestido de chita.
Com ele eu molho o orvalho,
a chuva, a cor púrpura, os sonhos lilás.
Tenho um regador verde abacate,
ele toma as minhas mãos e sai regando a ternura
que brota nos jardins e os bandolins
que carregam no colo o velho artista.
 Nos dias de sol ardente, o regador molha o calor,
o cansaço, o desamor e abre a porta do mundo,
molha de amor o tempo.
Não se esquece do espaço que mesmo largo,
mas se afagado num laço, cabe dentro do coração.
Regador, cuida também da flor que 
nasce nas nossas mãos.


Entre a lua e o infinito
Há um buraco no muro...
O que será que tem do lado de lá?
Um vaso vazio, uma rosa a balançar,
o constatar intacto de um sonho?
Há um buraco no muro por onde passa o vento,
por onde de repente vejo um corpo nu,
de pele morena, de sereno olhar,
que não para de cutucar o muro vizinho
de onde alguém pode avistar outro corpo nu.
Uma fenda alguém também furou,
mas dessa eu posso ver uma flor que se gerou
entre a lua e o infinito.



A rosa não dormiu
Não sofras porque a rosa dormiu,
porque o vento calou, porque o sol escureceu,
porque o dia entardeceu, porque a madrugada esfriou
e a noite não soprou um verso ao seu ouvido.
Não chores se a sua historia ninguém leu,
se o texto você esqueceu naquele momento de emoção,
se o sono acordou-se dentro de ti,
se as palavras calaram no balbucio escondido do anjo sem cor.
 Sofra, chore, ria, a madrugada fria lhe trouxe um cobertor,
o tempo lhe conta a historia que você não revelou
e as palavras fazem vigília num cantinho de seu coração,
viram canção e perfumam o quarto caiado
de puro desejo angelical.


Palavras caladas
Eu vivo cercada de palavras,
mas as palavras que me cercam falam em silencio,
no silencio do cheiro das flores,
no silencio da tristeza do  por do sol,
no silencio do mistério da tarde,
no silencio franzido que costura o cinza do sem fim.
Eu vivo cercada de palavras que falam caladas do sonho que há de vir,
no despontar da pétala,  no tombar dos galhos,
no cair da folha de um fecundo jardim.
As palavras em minha volta fazem vigília
para o amanhecer acordar inocentemente...


O sem fim da saudade
Quando a saudade é tão grande assim,
não basta escrever carta,
mandar e-mail, ouvir a voz de quem se ama pelo telefone,
nem tão pouco sentir o perfume impregnado na carne.
Saudade é lembrança de pele,
de alma, de coração
Remédio?
A doce emoção do encontro.
Mas há saudades que são eternas,
doloridas, feridas abertas no tempo
Para essas eu planto Dálias amarelas
para que a tristeza dos invernos abrandem a solidão.
Saudades...