Para fazer carícias no seu coração!!

Rubemmm...!! Me espera...

Chuva...

Canção aos ouvidos, palidez no olhar, coração gotejando ternura. O tempo está assim, perfeita harmonia entre sol e chuva, entre mansidão e brilho solar, entre mucajás, muros e helicônias.

Esses dias estou amanhecendo na cama por conta de uma tendinite no tornozelo que não está me permitindo andar “normalmente”. Então, abandono mente-coração ao um sonolento devaneio com recheios de racionalidade.

Entre sono e sonhos recrio o meu andar e os meus jardins... E assim começo a fazer uma ponte entre a história construída em meio as relações de poder existente entre os humanos e a complexa simplicidade da natureza. Sou amazônida da beira do rio. Sinto-sei como a vida se move-é movida-e faz mover em símbolos, crenças e jeito de ser, por estas bandas.

A algum tempo pensei que podia deter o rumo da história e me dediquei a isso com a força da dor de um parto, sofri e cansei. Todo o esforço não possibilitou nascer o que eu queria. Até porque o meu querer era todo cortado de graves contradições. Não percebi que as páginas do livro da vida são escritas com infinitas canetas com cores diversas, emaranhadas e visiveis caligrafias, mãos-corações-mentes, intencionalidades, sonhos...

Hoje, penso-sinto que a história é assim... Uma página tem a cor da consciência, se amorosa, não sei; outra, tem sabor de diferentes omissões; outra, toda desenhada por mãos igualzinhas, mas com desenhos diferentes. Descobrir páginas em branco e estou saboreando pensar-brincar que serei capaz de decifrá-las. Essas têm cheiro de mistério!

Sei que os meus alinhavos estão costurados na borda da grande colcha imaginária que chamo de história. Mas sei que eles não têm força para detê-la, mas estão no fluxo, influenciam e são influenciados. Sei que sou capaz de represar-redirecionar as águas do rio São Francisco e ele pode até secar, mas eu não sou capaz de compreender no sentido sagrado da Vida, a dimensão abiótica desta minha ação nesse corpo orgânico chamado Terra-Cosmo.

Para refrescar este pensar sento na ribanceira deste rio que amo. O Amazonas é um pulso que lateja, é uma vagina que sangra, é um útero que gera, é um canteiro de sabedorias... Tudo por aqui está em movimento. Nesse fluir, infinitos seres passam diante do meu olhar e brincam com os meus pensamentos... Sementes, gravetos, mururés, barrancos de canaranas, lembranças de minha infância, saudades... Em meio a essas divagações vejo uma formiga que passa bem pertinho de minhas mãos tentando se equilibrar, penso eu, numa folha. Estendo a mão e ajudo a formiga a não ser levada pela correnteza, mas não pude e nem deveria impedir que um pequeno peixe fosse devorado por um pássaro mergulhão. Mas sei que entre eu e a formiga houve algo grandioso que mexeu com todo o rio.

E assim estou compreendendo que uma ação por pequenina que seja mexe com toda a grande teia, mas não é capaz de determinar o fluxo das águas. Vou continuar estendendo a mão, mas não quero me afogar e nem pensar que posso fazer o mergulhão parar de sentir fome.

Levanto da ribanceiro e procuro o Rubem Alves, quero ser sua companheira na arte de fazer balanços e plantar jardins...

Quando a vida vira aconchego é tão gostoso!!

Dezembro-2010 estive em Porto Velho contribuindo com uma 'roda' sobre Mística e Espiritualidade, pela Rede de Educação Cidadã-Recid... Saudades do povo que mora às margens do rio Madeira!

Hoje, eu me escondi de mim. Troquei a cama por um velho trapiche, o lençol por um cacho de flores. Dormi olhando as estrelas, bebi as gotas de uma fina chuva e me agasalhei numa cobertura de papoulas em forma de guirlanda.

Acordo, agora, toda serenada! Alma lavada pelo orvalho da noite. Tudo está em silêncio! Nem o vento aparece para bater a porta do banheiro. Faço dormir a audição e assim só a voz do coração ecoa. Mas estou cercada por pássaros! Ah, estes doces e travessos amiguinhos insistem em falar comigo... Abro a janela e eles pousam bem perto de mim, me olham nos olhos, nem tive tempo de com eles falar, uma folha de papoula se desprende do galho e os assusta.

Resolvo rasgar o calendário que serviu de travesseiro ao dormi no trapiche quase quebrado. Assim, ele não mais me falará de tempo, horas, idade, compromisso... estou livre... A liberdade é uma dor que sangra e uma asa que desafia à voos razantes.

Sem idade, acolho as rugas e as agasalho em minhas mãos, não as verei como marcas do tempo, mas, sim, como linhas desenhadas por pincéis orvalhados de amor.

As estações do ano, eu as contemplarei da janela, sem lembrar dos janeiros, abris, julhos e outubros. Apenas admirarei a chuva cair, as flores brotarem pelos jardins e esquinas, as folhas cairem no colo da terra e o calor do sol aquecer a gota de orvalho que se equilibra na folha da amoreira.