Chuva de Amor
Chove flores sobre a terra!
Flocos de algodão doce
caem nas mãos de quem ainda é criança!
Pétalas azuis, branca, amarelas, vermelhas,
apagam as marcas do silêncio
que outro dia eu escrevi no muro!
No muro da saudade,
dos cravos e das orquídeas
Muro da esperança...
Chove chuva de amor
Seca o pranto
Renasce a flor
Floresce a ternura
Os caminhos se bordam de carinhos,
saem se curvando diante do amanhã
que chega dourado
abrindo os braços para apertados abraços
que já não sabem soltar os laços
e viram eternidade...
Olho distraída para o horizonte e penso em você... Do meio do céu pálido surge o vento todo colorido! O dia irradia paz! As folhas das palmeiras dançam! Os pássaros cantam num voar incessante! O coração pulsa com ternura e o meu respirar lembra-me das ondas que meigamente quebram-se na praia ou nas ribanceiras solitárias deste encantado Amazonas!
De onde vem esse sentimento que me faz pensar em coisas belas? Que magia alimenta os meus sonhos?
Para você que visita este espaço, o meu carinho e minha gratidão!

Cheirar à jasmins
Hoje minha alma bateu asas
Saiu por aí...
Disse pra mim que cansou das lavandas,
agora quer ter o cheiro dos jasmins.
Quer voar...
Voar bem alto até tocar a estrela,
a nossa estrela...
Pegar carona em sua cauda
e insuflar o peito com raios de luz.
Quer mergulhar no mar
Incendiar de amor os corais
Nadar... Nadar...
Até pousar nas águas amarelas do Amazonas,
deixar a alma da alma repousar
no doce marulhar de suas ribanceiras.

Entre mururés, águas e florestas
Apenas três horas de viagem...
Acordei com o amanhecer, peguei emprestada a mochila do meu filho, sem que ele soubesse, claro, coloquei uma rede e um par de roupas e rumei para o porto de Santana, município próximo de Macapá; destino? A escola do Rio Navio, às margens do Rio Amazonas, no município de Mazagão. Busquei na memória lembrar mais ou menos a localização, não consegui, então me lancei em mais uma aventura.
Cheguei no Porto de Santana com alguns minutos de atraso. Muitos barcos! Homens embarcam e desembarcam. Uma cena que muito gosto de ver. Fico a imaginar o que eles pensam da vida, do mundo, das relações de poder e de compaixão, onde vivem, de onde veem, se são felizes.
Eu e minha amiga Ana Maria ficamos a procurar o barco, claro que não achamos. Nossos outros companheiros chegaram e logo fomos achados pelo barqueiro. Nossos “bagulhos” arrumados deixamos o porto acenando para os que ficaram.
Na Amazônia, quem marca o tempo é a maré. Nos atrevemos sair “contra a maré”. Resultado? Continue lendo... As duas primeiras horas foram uma alegria só. Caminho desconhecido para meus amigos. Para mim reencontro, saudades, caminho familiar.
O sol quente invadiu o barco e um forte calor se apossou de nossos corpos. Só em um lado do barco havia sombra.
Depois de algum tempo o motor começou a esquentar, o comandante desligava, mexia, mexia, ligava de novo, funcionava um pouco e parava novamente. A pergunta mais constante entre nós: está longe? E o comandante respondia, depois daquela ponta... Muitas “pontas” apareciam, sumiam e logo outras surgiam. A previsão de três horas passou para quase seis. O que fazer com a vontade de fazer xixi? Tomar água nem pensar! Aprendi com isso que tenho que ser parceira da maré, nunca sua adversária... Como diz o poeta, “Ando devagar porque já tive pressa...”
Enquanto esperavámos a “ponta” aparecer, minhas amigas tagarelas, Mara e Ana não paravam de falar. Nem sei o que tanto elas falavam! O Eugênio e a Simone deitaram no assoalho do barco, parece que o sol amigo apenas os acariciou, eu pensei que iam ficar assados. A Nazilda banhada de suor se abanava o tempo todo, o Oziel, nosso comandante parecia totalmente calmo e cúmplice dos acontecimentos, eu procurei silenciar e depois de algum tempo comecei a espirrar e coçar os olhos, tive dor de cabeça e parecia que estava toda sabrecada, tenho alergia, às vezes a mim mesma rsrs. Finalmente aparece a ponta tão esperada! E o meu olhar se realimentou pela beleza do lugar! Atracamos no trapiche e fomos saudados por uma linda escola com sua bela e acolhedora gente.
Olhos deslumbrados com a beleza do lugar, corpos cansados e fadigados... Almoçamos e nos banhamos com as águas do meu amado Amazonas. Logo depois arrumamos o ambiente para receber os professores/as e demais participantes da comunidade, para juntos conversarmos sobre/com a proposta do projeto: “Semeando Vida e Cuidando da Comunidade. Religando o Conhecer ao Viver com-Vida”, que traz em sua essência a possibilidade de entrelaçar, na escola-Vida as dimensões amorosa e cognitiva do conhecimento. Com isso, cultivar e fortalecer uma cultura de paz. Foi um gostoso encontro!
Logo depois da roda de conversas fui apreciar o dia se despedir do horizonte! O maravilhoso Amazonas se aconchegou no meu peito me sufocando de saudades, de ausências-presenças. Têm lembranças que ficam guardadas bem além da memória. Ficam cravadas na alma!
Com essa sensação de estar em casa, fomos visitar a comunidade. Partilhamos carinho e atenção. Fomos presenteados com peixe assado e açaí. Jantamos e nos recolhemos ouvindo histórias contadas por dois moradores do Rio Navio. O medo dos morcegos fez partilharmos os mosquiteiros. Dormi profundamente, mesmo assim escutei a água barulhar nas ribanceiras, compondo canções tão conhecidas, para mim.
No dia seguinte acordamos antes do sol. Desatamos nossas redes e dessa vez saimos com a maré. A viagem de volta foi rápida demais. Ficou no coração o gostinho de: quero voltar outras vezes... Sempre com a maré...
Nosso afeto e gratidão aos irmãos e irmãs, moradores das margens do Amazonas com o Rio Navio! Até breve!

Flor de Lótus
Outro dia um jardim de Lótus andou por dentro de mim. Eu estava triste. Um fétido lodo grudou nos meus pés, respingou nos meus olhos e cegou o meu olhar. Não desisti de caminhar, mesmo que a cegueira fizesse eu tropeçar em meus próprios passos. As flores de Lótus me tomaram pelas mãos. Com delicadeza me aguçaram o olfato para que inebriada eu ficasse com o perfume que exalava de seus caramanchões. Fui acolhida e cuidada pela pureza de Lótus, que, com a sua luz irradiante encharcou o meu ser de amor. Com isso, o asqueroso odor foi secando e soltando-se de meu corpo. Minhas pernas foram criando asas e deixaram no fim do caminho o jugo pesado do medo. Eu medrei da escuridão lodosa das águas.
Sentindo Lótus na alma, corpo-mente inundam-se do Sagrado que habita um altar por entre as estrelas. Ou por entre as pedras, que quando em nossas mãos dá pra sentir o quanto são belas e misteriosas.
Lótus é a mão sagrada do Divino que faz a experiência de ser flor, mistificando a manifestação e expansão espiritual nestes caminhos terrestres. É esta mística que me ensina a perceber os centros de consciência do meu corpo e a fonte de luz que habita a minha alma.
Lótus acaricia meu peito que hoje se abre para a singeleza do belo que há na espiritualidade. Toca meu ventre imaculado pelo dom de aninhar vidas. Instiga a minha ousadia de abrir caminhos por entre as borboletas.
Lotus me olha com os olhos da sabedoria que sabe perceber o vazio que há na dualidade. Me ensina a indivisibilidade da Vida. Ela emerge do fundo lodoso e nem por isso se suja. Suas pétalas estão sempre perfumadas e a sua pureza, mesmo tocada pelas impurezas da lama, brota bela e magnífica como uma canção que explode na voz do artista. Me ensina ainda, que todos os pés que tocam com carinho e ternura o chão circular da vida, fazem nascer flores de Lótus. Esta magia é como uma criança que em meio a travessuras vela o meu sono e brinca com os meus sonhos.